Título: Lula estréia avião para relançar Projeto Rondon
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2005, Nacional, p. A6

Rota habitual de traficantes de drogas, guerrilheiros colombianos e ONGs ligadas a interesses estrangeiros, a cidade de Tabatinga, bem na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, vive amanhã duas estréias - a do novo avião presidencial, o Airbus C-319, e a do Projeto Rondon, que ressurge 16 anos depois de ser extinto, em 1989, pelo governo Sarney. Nesse vôo inaugural, de 3 horas e meia, sem escala, o avião levará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a solenidade de relançamento do Projeto. Com ele estarão pelo menos dois ministros: o da Educação, Tarso Genro, e o do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix. Em seguida, o presidente terá reunião com seu colega colombiano, Álvaro Uribe, na cidade de Letícia, na Colômbia, para discutir a segurança na fronteira.

Criado em 1967 - durante o governo do general Costa e Silva - para missões de integração de populações no interior do País, o Projeto Rondon foi utilizado, durante 22 anos, para envolver estudantes universitários na assistência a cidadezinhas distantes, não beneficiadas por qualquer programa governamental. Com sua retomada - feita por Lula a pedido da União Nacional dos Estudantes, sem criar um novo nome nem novos símbolos - o governo do PT tenta compensar a falta de uma ação organizada em áreas de fronteira.

Para levá-lo adiante, 200 universitários de diversas instituições começam a desembarcar hoje em Tabatinga, de onde seguirão, em barcos, rumo a comunidades ribeirinhas. Além dos estudantes, a missão inclui pelo menos 40 militares e vai fazer diagnósticos da realidade social de 13 lugarejos, incluindo vilas já na divisa com a Venezuela. Os relatórios preparados pelos universitários serão aproveitados pelos órgãos públicos.

REAPROXIMAÇÃO

A volta do Rondon ocorre num momento em que tanto o movimento estudantil busca reconquistar uma imagem perdida, em muitos setores da sociedade, nos anos 90. "Vivemos um momento diferente", avalia Gustavo Petta, presidente da UNE. "É importante uma aliança em defesa da Amazônia."

Ontem, os 200 universitários participaram de treinamento no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus. Pela manhã, percorreram uma trilha de 850 metros numa área de floresta. O Exército decidiu fazer o treinamento apenas para mostrar aos estudantes a escola que prepara militares - a missão deles limta-se a visitar comunidades e núcleos urbanos. Ainda desacostumados, os jovens estudantes não economizaram protetor solar e repelentes. "Aqui é muito quente, parece que estou num show de axé em Salvador", reclamou uma estudante baiana. Outra, mineira, disse precisar de "um capacete" para não se machucar nos espinhos de tucum. "Eles estão todos muito animados", garantiu o coordenador do Projeto Rondon, general Gilberto Arantes Barbosa.