Título: ONU dá receita contra miséria de 500 milhões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2005, Vida &, p. A8

Mais de 500 milhões de pessoas poderão ser tiradas da miséria, 250 milhões deixarão de passar fome e 30 milhões de crianças terão suas vidas salvas se os países desenvolvidos cumprirem a promessa de aumentar a ajuda dada aos países pobres. Seria necessário, a partir do próximo ano, um investimento de US$ 135 bilhões anuais, que deverá crescer até US$ 195 bilhões em 2015. As afirmações fazem parte de um relatório de 3 mil páginas divulgado ontem, nas Nações Unidas, em Nova York, que mostra o investimento necessário para que os membros da ONU atinjam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, oito metas contra a pobreza, a fome, a discriminação e as epidemias para 2015.

Segundo a ONU, cerca de 1 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia e 1,8 bilhão com apenas US$ 2. "O sistema não está funcionando", disse o economista Jeffrey Sachs, que coordenou o trabalho de 265 especialistas. "Há um desequilíbrio no enfoque dado a questões como guerra e paz, e menos à morte e ao sofrimento dos pobres."

O relatório foi entregue ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que prometeu usar os dados para preparar sua própria recomendação aos países-membros na próxima Assembléia Geral, em setembro.

O documento "Investindo no Desenvolvimento: Um Plano Prático para Atingir os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio" indica que investir no cumprimento das metas contra a pobreza é factível com uma economia de US$ 30 trilhões comandada pelos países ricos, dos quais US$ 12 trilhões estão em mãos americanas.

As nações ricas devem ajudar as mais pobres a investir em educação, nutrição, saúde, meio ambiente e serviços básicos, recomenda o documento. Em 1970, os países desenvolvidos concordaram em destinar 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para ajuda humanitária. Até agora, apenas 5 dos 22 industrializados cumpriram o prometido: Dinamarca, Holanda, Luxemburgo, Noruega e Suécia. Outros seis países (Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Irlanda e Reino Unido) disseram que atingirão a meta apenas em 2015. Os EUA, os mais ricos do planeta, gastam somente 0,15% de seu PIB com esse tipo de auxílio - apesar de o presidente George W. Bush ter se comprometido com um aumento na verba.

INFRA-ESTRUTURA

Para Sachs, que coordena o Instituto da Terra, na Universidade Columbia (EUA), o acesso à infra-estrutura básica de saúde seria suficiente para inverter o quadro negativo. Como exemplo, cita a instalação de redes para proteger camas e manter distantes mosquitos vetores de doenças, como a malária e a dengue, e o acesso à água potável e a sistemas de saneamento adequados. Também comenta a necessidade de se investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais baratas e eficientes.

"Temos a oportunidade de cortar a pobreza mundial pela metade", disse o pesquisador. "Bilhões de pessoas podem aproveitar os frutos da economia global. Dezenas de milhões de vidas podem ser salvas."