Título: OMS quer encarecer bebidas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2005, Vida &, p. A10

O Brasil não vai apoiar o aumento de impostos para bebidas alcoólicas, idéia que está sendo debatida na Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. Esse é um dos pontos de proposta apresentada pelos países escandinavos que conta com o apoio da agência de saúde da ONU. Mas durante a reunião em Genebra, que está sendo acompanhada por representantes da Ambev, Brasília seguirá outro ponto proposto e defenderá maiores limites em relação à publicidade. O objetivo da OMS é começar a discutir os efeitos do álcool na saúde. O Conselho Executivo da agência tem até o fim da semana para votar uma resolução sobre a questão e um relatório com políticas para reverter a situação preocupante provocada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

A OMS já conta com um acordo para controlar o tabaco e o debate sobre possíveis estratégias na questão do álcool deixa a indústria preocupada. Em seu documento, a OMS alerta que "problemas de saúde pública associados ao consumo de álcool chegaram a proporções alarmantes".

O texto acusa o álcool de ser responsável por 4% das doenças no mundo e 3,2% das mortes por ano - 1,8 milhão de vítimas. O tabaco causa 4,1% das doenças. A OMS ainda destaca que o excesso de consumo entre jovens pode ser explicado pelo maior acesso deles ao produto, além do "marketing agressivo" das empresas. Assim, segundo a OMS, a prevenção não seria suficiente e iniciativas como a taxação dos produtos deveriam ser avaliadas.

O Brasil, porém, decidiu não tocar na questão comercial do tema. O presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Paulo Marciori Busso, que representa o País na reunião, explica que o governo chegou à conclusão de que tornar a bebida mais cara não resolveria o problema. Curiosamente, o ministro da Saúde, Humberto Costa, defende maior taxação no caso do cigarro para frear o consumo.

Quanto à publicidade, o governo já limita a de bebidas com grau alcoólico alto, como o uísque. Agora, estuda limitar também a propaganda das bebidas mais fracas.

A indústria já faz lobby. Em Brasília, representantes de vários ministérios relatam que o setor privado já os procurou para conversar sobre o assunto. Um executivo da Ambev, Luiz Osório, está em Genebra para observar os debates, mas a empresa informou que, por enquanto, não vai se pronunciar sobre a questão.