Título: Abbas manda AP conter militantes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2005, Internacional, p. A12

O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, conhecido como Abu Mazen, ordenou ontem que suas forças de segurança impeçam ações armadas de militantes contra Israel e anunciou uma investigação do ataque de quinta-feira ao posto de fronteira de Karni, na Faixa de Gaza, no qual morreram seis israelenses. "Abu Mazen e o gabinete deram instruções claras para os chefes de segurança impedirem qualquer tipo de violência, incluindo ataques contra Israel", disse o ministro sem pasta Qadura Fares.

O primeiro-ministro Ahmed Korei afirmou que quem violar as ordens de Abbas será punido. Outros altos funcionários acrescentaram que não será feita diferenciação entre ataques contra as tropas de ocupação israelenses e os colonos judeus. Entretanto, militantes de grupos como o Hamas e as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa disseram que poderá haver confronto com as forças da AP. Um porta-voz do Hamas, Mushir al-Masri, disse que o grupo não acatará a ordem. "Consideramos a resistência uma linha vermelha. Ninguém está autorizado a cruzá-la", disse Masri.

Analistas políticos na região acham difícil uma intervenção das forças da AP porque sua infra-estrutura foi enfraquecida pelas constantes ofensivas militares de Israel em mais de quatro anos de intifada e, além disso, muitos membros têm ligações com os militantes (ler ao lado). Abbas tem dito que buscará convencer os grupos pelo diálogo. Amanhã ele se reúne com líderes do Hamas e da Jihad Islâmica na Faixa de Gaza.

Sob pressão dos EUA e de Israel, o governo palestino estuda a reestruturação das forças de segurança, hoje divididas em 11 unidades. A reforma prevê sua unificação em três forças e ainda ficará semanas em estudo no Conselho Legislativo (Parlamento).

O governo do primeiro-ministro Ariel Sharon considerou a ordem de Abbas um "pequeno passo" e disse que ele deveria pelo menos evitar o disparo de foguetes contra o território israelense, para que Israel restabeleça os contatos com a AP.

Na sexta-feira, um dia depois do ataque em Karni, Sharon rompeu o contato com Abbas e fechou todos os postos de fronteira com a Faixa de Gaza. Ele adotou a medida um dia antes de Abbas assumir a presidência da AP. Nações árabes e mesmo alguns membros do governo Sharon criticaram a decisão, tomada antes que Abbas tivesse tempo de agir.

Israel matou dois ativistas da Jihad Islâmica que atiraram contra carros perto de uma colônia judaica na Faixa de Gaza. Militantes dispararam sete foguetes caseiros contra Israel. Não houve feridos. Ainda ontem, a aviação israelense bombardeou o sul do Líbano, ferindo duas mulheres, depois que o grupo Hezbollah disparou, na fronteira, contra um buldôzer de Israel.