Título: A eleição em que o candidato tem medo de aparecer
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2005, Internacional, p. A16

Vinte mulheres iraquianas candidatas nas eleições do dia 30 no país disseram a uma delegação composta por congressistas americanos há uma semana que, por causa de ameaças a suas vidas, não estão fazendo campanha e não vão deixar que suas fotos sejam exibidas ou seus nomes listados publicamente em listas de candidatos. "Uma foi seqüestrada, outra teve seu filho morto tentando protegê-la e uma saiu de uma lista de candidatos depois que seu marido e os filhos foram ameaçados", disse a republicana Judy Biggert, uma dos quatro congressistas que se reuniram com as mulheres durante dois dias em Amã, na Jordânia. "Ouvimos dizer que era uma zona de guerra, mas não percebemos como era perigoso."

Ao rememorar o encontro com as mulheres, a republicana Ellen Tauscher descreveu o processo eleitoral no Iraque como "surreal". "É impressionante nesta situação que estamos representando qualquer idéia de que isso é legítimo", disse ela. "Mas esse é o menor dos males, porque não podemos deixar de ter as eleições."

Com apenas duas semanas de prazo para escolher os 275 integrantes da Assembléia Nacional, estão surgindo detalhes sobre a campanha e a votação no Iraque que ilustram as temores de Tauscher. Muitas preocupações são compartilhadas por especialistas de organizações não-governamentais internacionais que estão no Iraque para observar a preparação para a votação.

Os organizadores da eleição ainda estão se debatendo com questões de como apresentar publicamente os nomes de todos os candidatos e com detalhes difíceis de como os votos serão contados e divulgados, segundo entrevistas por telefone com especialistas feitas na semana passada.

Eles dizem enfrentar a perspectiva desconfortável de estarem a duas semanas dos resultados serem conhecidos e a possibilidade complicadora de que os vencedores sejam contestados depois de acordo com as regras das eleições.

No dia 30, os eleitores receberão pelo menos duas cédulas, um para a Assembléia Nacional e um para a legislatura governamental, equivalente a legislatura estadual.

A cédula nacional vai ter uma linha com o nome, o número e o símbolo, se houver um, para cada uma das chapas de candidatos. Mas os nomes de cada um dos candidatos que formam cada uma das chapas não estarão nas cédulas.

Por causa do perigo, as chapas, mesmo aquelas mais divulgadas pelos grandes partidos, não estão divulgando os nomes de todos os seus candidatos. "Só os que têm proteção" terão seus nomes divulgados, segundo Tauscher.