Título: Voto em Virgílio custará cargos a aliados
Autor: Vera Rosa,Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2005, Nacional, p. A7

O Palácio do Planalto decidiu jogar pesado com os rebeldes da base aliada que estão apoiando a candidatura dissidente do petista Virgílio Guimarães (MG) à presidência da Câmara. Os deputados de partidos aliados que não apoiarem o candidato oficial do PT, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), terão de entregar os cargos ocupados no governo federal por seus apadrinhados políticos. Um dos primeiros alvos do Planalto será o deputado João Leão (PL-BA), que lidera o movimento "Câmara Forte" de apoio à candidatura de Virgílio Guimarães. Líderes governistas observaram que Leão fez as indicações para o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) e para a Companhia Docas. O novo líder do PP, deputado José Janene (PR), também está na mira do governo e terá de entregar seus cargos na Petrobrás e na Funasa, caso insista em apoiar a candidatura do petista mineiro.

O presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou ontem que o partido não poderá ter dois candidatos disputando a presidência, no dia 14 de fevereiro. "Eu, como presidente do PT, não tenho como bancar duas candidaturas. Isso seria um precedente muito grave. Seria o pior dos cenários. Nós apostamos na possibilidade de recuo do Virgílio. Mas se ele não recuar, a bancada deverá decidir o que fazer", disse Genoino.

A cúpula do PT ainda não decidiu se afastará ou mesmo expulsará Virgílio do partido, caso ele mantenha a candidatura. "Esse tipo de medida não está na agenda, no momento", advertiu Genoino. Punições contra o petista mineiro só deverão ser tomadas passada a eleição para a presidência da Câmara. Os petistas estão certos de que este não é o momento para transformar Virgílio em vítima.

Virgílio Guimarães deverá lançar hoje à tarde sua candidatura à presidência da Câmara. Ontem, João Leão reuniu em um almoço, em sua casa, 17 deputados que estão trabalhando na sua candidatura. A maioria dos deputados vestiu uma camiseta da campanha do mineiro, com o slogan "Brasil, um País de todos". Os integrantes do "Câmara Forte", que seriam cerca de 50 deputados de vários partidos (PL, PSB, PMDB, PTB, PDT, PP e PV), contribuíram com R$ 2 mil cada um para bancar os custos da campanha de Virgílio.

PROPORCIONALIDADE

"Meu voto é para o Virgílio. Não tenho nada contra o Greenhalgh, mas foi um equívoco a escolha do PT", afirmou o líder do PPS, deputado Júlio Delgado (MG). Sua posição entra em choque com a da Executiva Nacional do PPS que, em reunião ontem, aprovou, para essa eleição, o respeito à proporcionalidade. Ou seja, o PPS apóia o candidato oficial do PT, que é o maior partido da Casa, à sucessão do atual presidente João Paulo Cunha (PT-SP).

Os líderes dos partidos da base aliada já avisaram ao Planalto que estão com dificuldades de garantir o voto no candidato oficial do PT. Argumentaram que o voto para eleger o futuro presidente da Câmara é secreto e, portanto, será difícil detectar as traições.

"Se o partido que tem o direito de escolher o candidato está com problemas, imagina os demais", observou o líder do PTB, deputado José Múcio Monteiro (PE). "O instrumento do voto secreto não dá para identificar se a orientação da liderança foi seguida", disse o líder do PMDB, José Borba (PR). "Uma coisa é o líder orientar; outra é a gente seguir. Eleição para a presidência da Câmara não é uma coisa partidária", afirmou o deputado Valdemir Moca (PMDB-MS), da bancada ruralista.

Além do lançamento previsto para hoje de sua candidatura, Virgílio Guimarães programou para sábado um ato político em Belo Horizonte. "Será a largada da campanha, que contará com a presença de dois mil mineiros. A candidatura de Virgílio não é de gabinete e sim do povo", afirmou João Leão.