Título: Explosão no Sol atinge a Terra
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2005, Vida &, p. A12

A Terra está sendo bombardeada esta semana por uma onda de tempestades magnéticas produzidas pelo surgimento de uma enorme mancha solar, com cerca de dez vezes o diâmetro do planeta. Centros de monitoramento na Rússia e nos Estados Unidos emitiram alertas sobre uma grande explosão na superfície do Sol ocorrida na segunda-feira, cujos efeitos deveriam ser sentidos na noite de ontem para hoje. As explosões lançam ao espaço quantidades gigantescas de radiação e plasma, que afetam o funcionamento de satélites e podem causar blecautes. As coisas andam agitadas na superfície solar desde o dia 14, quando uma série de pequenas manchas passaram a formar um aglomerado, descrito como região 720. "No dia 15 reconhecemos que tínhamos um grupo de manchas muito grande", disse ao Estado o meteorologista espacial Bill Murtaugh, da National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA) dos Estados Unidos. Desse aglomerado, segundo ele, originaram-se cinco explosões solares. A mais forte, de categoria X3 (em uma escala de 1 a 5), foi registrada anteontem.

"É uma mancha de tamanho inesperado para esse estágio de atividade solar", disse o especialista Pierre Kaufmann, coordenador do Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAAM) e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Sol funciona em ciclos de 11 anos e agora está próximo do seu ponto de atividade mínima, após o máximo solar registrado em 2000.

A expectativa, segundo a NOAA, é de que as tempestades solares permaneçam em nível elevado pelos próximos dias. "A Região Ativa 720 é um grande e complexo aglomerado de manchas solares. Novas erupções significativas podem ocorrer nessa região antes que ela saia do disco visível do Sol em 22 de janeiro", avisa o comunicado.

As manchas solares são formadas pela concentração de pólos magnéticos e podem ser vistas como pontos menos brilhantes e menos quentes na superfície do Sol. É a partir delas que costumam ocorrer as explosões solares e as chamadas ejeções de massa coronal (EMC), que lançam ondas de radiação e gás superquente (plasma) no espaço.

As partículas mais energéticas atingem a Terra em menos de uma hora, enquanto as EMCs levam de dois a três dias, segundo Kaufmann. A EMC da última explosão, portanto, deveria atingir a Terra de ontem para hoje.

O resultado são tempestades geomagnéticas que podem afetar o funcionamento de satélites e causar perturbações nas redes de telecomunicação, elétricas, e sistemas de navegação. A chegada da massa coronal pode inclusive causar alterações no campo magnético da Terra, além de proporcionar o espetáculo das auroras.

Graças à proteção da atmosfera terrestre, não há risco direto para a população na superfície, mas os astronautas da Estação Espacial Internacional foram alertados para se proteger da radiação.