Título: Uribe pode apoiar mediação de Lula na crise com Venezuela
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2005, Internacional, p. A16

O primeiro aval para que o governo brasileiro se converta em mediador da crise diplomática aberta entre a Venezuela e a Colômbia poderá surgir hoje, durante um encontro entre os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o colombiano, Álvaro Uribe. Os dois almoçam juntos em Letícia, cidade colombiana na fronteira com o Brasil. No sábado, o assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, terá a oportunidade de conseguir a aprovação do venezuelano Hugo Chávez à mediação brasileira, durante visita a Caracas. No dia 14, a caminho do Suriname, Lula terá um novo encontro com Chávez. O Brasil se dispõe a mediar a crise desde que isso lhe seja solicitado pelos governos dos dois países, informou Garcia ao Estado. Essa posição de esperar que as duas partes solicitem uma mediação foi iniciada durante o governo Fernando Henrique Cardoso e ganhou força na administração Lula. Por enquanto, apenas o governo do Peru se dispôs a mediar a crise Colômbia-Venezuela.

"Se o assunto vier à tona na conversa de hoje entre os presidentes Lula e Uribe, vamos levar essa proposta adiante. Mas, primeiro, temos de saber com clareza o que cada lado pensa sobre a possível mediação do Brasil", afirmou Garcia. "Não queremos nos antecipar. Preferimos agir com muita prudência."

O encontro entre Lula e Uribe será o quinto entre os dois presidentes. Os ministros colombianos de Relações Exteriores, Carolina Barco, e de Defesa, Jorge Alberto Uribe - um dos principais pivôs da crise -, também participarão do almoço.

A rigor, uma possível mediação do Brasil no conflito diplomático entre os dois vizinhos consolidaria a liderança regional do Brasil ao comprovar sua capacidade de contornar crises na América do Sul.

Cauteloso, Garcia preferiu não dar sua opinião sobre o conflito e enfatizou que todas as viagens - as de Lula e a dele mesmo a Caracas - já estavam programadas antes de a crise surgir, na semana passada.

A rusga entre os dois vizinhos tem como causa a captura, em dezembro, em Caracas, de um líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Granda, por caçadores de recompensa.

Granda foi entregue às autoridades colombianas na fronteira entre os dois países. Na semana passada, o ministro Jorge Uribe admitiu que seu governo entregou pagamento aos venezuelanos que entregaram o guerrilheiro.

Como represália à "violação de soberania", Chávez suspendeu as relações comerciais e diplomáticas com a Colômbia na semana passada e exigiu desculpas públicas de Uribe. O presidente colombiano não só se recusou a apresentar desculpas como se comprometeu a apresentar provas de que a Venezuela abriga outros sete líderes das Farc.