Título: Copom desafia pressões e juro deve ter nova alta hoje
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2005, Economia, p. B4

O Comitê de Política Monetária (Copom) ddo Banco Central encerra hoje sua primeira reunião do ano pressionado, por um lado, pela persistência da inflação e, de outro, pelo custo político imposto ao governo por manter juros elevados. Todas as apostas são de nova alta da taxa Selic e de juros altos, pelo menos, no primeiro semestre, o que acentuou o nível de insatisfação com a política do BC, desta vez entre os ministros. O primeiro a tornar explícita sua discordância foi o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Ele defendeu que juros altos não servem para combater uma inflação provocada por preços administrados por contratos ou monitorados, como combustíveis, telefonia e energia, confirmando uma impaciência que vem alimentando há algum tempo quando provocado sobre a questão dos juros.

Furlan não se cansa de comentar que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula quer uma taxa de juros reais (descontada a inflação) de só um dígito este ano. A taxa real está hoje em 11%, considerando-se uma previsão de inflação de 5,7% até dezembro e a Selic de 17.75%.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria, o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), disse que uma alta seria um sinal negativo. "É lamentável essa política conservadora e ortodoxa do BC."

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já prepararam o terreno dos críticos dos juros altos nas entrevistas recentes. Eles reforçaram os argumentos explicitados na ata da reunião do Copom de dezembro. No documento, os diretores do BC sinalizaram que novas altas estariam por vir e que manter os juros elevados por período mais longo é a forma de assegurar que a inflação futura esteja em linha com a meta.

O BC vem calibrando a taxa de juros para que o IPCA, índice de preços que serve de referência para o regime de metas de inflação, fique em 5,1% em 2005. Mas analistas, investidores e empresários apostam em um porcentual mais alto: 5,7%. Depois das elevações da Selic nos últimos meses, a projeção chegou até a recuar, mas voltou a subir esta semana, deixando o BC numa situação delicada. As projeções do mercado acabam influenciando os preços e, num momento de recuperação da economia, estimulam reajustes preventivos que a autoridade monetária tenta conter aumentando os juros.

As insatisfações de Furlan são compartilhadas pelo setor produtivo. Porém, se por um lado, os empresários consideram mais alta desnecessária, por outro, parecem ter aceito isso como inevitável. "Não há razões para nova alta (dos juros), mas reconheço que com as elevações do mercado em relação à projeção futura de inflação, o governo deve tomar alguma atitude", disse Monteiro Neto.

O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Micro Empresa (Sebrae), Paulo Okamotto, que tomou posse ontem no cargo, defendeu a equipe econômica. "Sempre queremos pagar juros menores porque uma taxa alta prejudica investimentos. Mas temos de entender que, às vezes, a política de juros altos é necessária", disse. "Não precisamos ficar só chorando porque pior do que ter dinheiro caro é não ter estabilidade e as condições para tomar dinheiro emprestado."