Título: Rodrigues entra na briga e pede dólar a R$ 3
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2005, Economia, p. B6

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou ontem ao Estado que o valor do dólar está "muito ruim para a agricultura" e defendeu um dólar a R$ 3,00. "É um número muito bom. É um número que o setor pode faturar." Mais cauteloso que o seu colega do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, Rodrigues disse entender que o câmbio flutuante faz parte dos pilares da política econômica do governo. "Por enquanto, eu estou a favor de dizer que o dólar está muito baixo e está muito ruim para a agricultura. Isso é o que estou dizendo por enquanto. Não estou falando ainda em intervenção, até porque a comercialização da safra brasileira vai se dar a partir do final de março. Então nós temos ainda dois meses para avaliar o que vai acontecer na agricultura", afirmou o ministro.

Rodrigues disse torcer para que o dólar se valorize com o reaquecimento da economia americana. Segundo ele, o comportamento do câmbio nos próximos meses pode mudar completamente a relação de renda do produtor rural. O ministro previu que o saldo da balança comercial do agronegócio em 2004 não deve se repetir em 2005. As exportações do agronegócio em 2004 foram de US$ 39,015 bilhões e o superávit, de US$ 34,134 bilhões.

De acordo com Rodrigues, a valorização do real em relação ao dólar aumentou o custo da produção porque os insumos foram comprados a R$ 3,20. "Além de ter um dólar ruim para vender e um preço em dólar que caiu no mundo inteiro, nós pagamos nos insumos um dólar muito maior que agora."

Ele explicou que o cenário é negativo para cinco produtos: soja, algodão, trigo, arroz e milho. Além de uma oferta mundial muito grande dessas commodities, o Brasil terá safra recorde em algodão, soja e arroz e estoques grandes de trigo e milho, provocando oferta recorde. O ministro informou que está estudando mecanismos para ajudar estes setores.

NEGOCIAÇÕES

Na opinião do ministro, os acordos bilaterais são "uma injeção na veia de comércio". Ele defendeu "mais vigor" nas negociações para um acordo entre o Mercosul e a União Européia e para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Rodrigues acredita que os acordos bilaterais podem compensar as perdas brasileiras no mercado global em razão da retração na economia mundial este ano.

Segundo o ministro, um estudo, do setor privado encaminhado por ele ao Itamaraty, mostra que um acordo comercial com a UE representaria um aumento de US$ 2 bilhões por ano no comércio do agronegócio brasileiro. Ele prevê que um acordo com a UE e para a formação da Alca deve ser fechado em 15 ou 18 meses.

Para aprimorar a participação do setor agrícola nessas negociações, Rodrigues disse que está reformulando a estrutura do Ministério da Agricultura, com a criação da Secretaria de Relações Internacionais. Um dos braços da secretaria cuidará de negociações internacionais, num trabalho integrado com o Itamaraty e com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.