Título: Organização popular é item de destaque no currículo
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Nacional, p. A4

As escolas tradicionais não estão capacitadas para atender às necessidades dos trabalhadores rurais, nem às dos movimentos sociais. Essa é a idéia que orienta o MST na construção de um projeto educacional próprio. O movimento já possui uma instituição de nível secundário, a Escola Josué de Castro, instalada em Veranópolis, a 156 quilômetros de Porto Alegre. Também tem celebrado convênios com universidades federais para a criação de cursos de nível técnico, tais como administração de cooperativas, enfermagem, magistério e comunicação.

Na área universitária o MST também atuou até agora por meio de convênios com as instituições federais. Conta com cursos voltados para o pessoal dos acampamentos e assentamentos nas áreas de história, agronomia e pedagogia. No momento negocia a criação de turmas especiais de direito, administração de empresas e assistência social.

Os cursos voltados para o MST não seguem o calendário escolar comum, para permitir que os estudantes participem de atividades práticas nos assentamentos, como a colheita, e têm conteúdo diferente.

"Seguimos o que é considerado obrigatório, mas nos diferenciamos nas matérias optativas", explica Adelar Pizetta, da coordenação pedagógica do movimento. "Nos cursos de agronomia, damos mais ênfase à agroecologia e fugimos daquele pacote tecnológico imposto pelos grandes produtores de adubos e sementes a quase todas as escolas rurais."

Na opinião dele, "nenhum movimento social vai longe se não forma adequadamente seus quadros, tanto do ponto de vista técnico quanto político". O MST dá mais ênfase que as outras escolas a questões políticas, à organização popular, ao pensamento socialista e a pensadores que, acredita-se, refletem melhor a realidade brasileira. Pizetta cita entre eles Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Sérgio Buarque de Hollanda, Darcy Ribeiro e Josué de Castro.

Ao explicar por que o MST decidiu dar à escola o nome do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), ele diz: "Foi o maior sociólogo brasileiro e um exemplo de luta. Nasceu pobre, superou desafios e foi sempre coerente com suas idéias. Não passou para o outro lado. Nunca teve dúvidas de que o futuro do Brasil é socialista. Mas também nunca foi dogmático. O socialismo em nosso País e em outros lugares vai surgir de condições objetivas e não de modelos a serem copiados."