Título: Na construção, só técnicas alternativas
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Nacional, p. A4

A Escola Nacional Florestan Fernandes começou a ser construída em 1998. Demorou seis anos para ser concluída porque os recursos financeiros eram poucos. Mas não só. A lentidão também se deve ao fato de o MST ter decidido usar o canteiro de obras como escola política e só empregar técnicas alternativas. Nos 6.200 metros quadrados de construção não se encontra nenhum vergalhão de concreto armado. Tudo foi feito na base de terra e cimento compactados - técnica que o MST quer disseminar. A mão-de-obra era constituída por assentados e acampados provenientes de todo o País, nas chamadas brigadas. Elas eram inteiramente renovadas a cada dois meses. Após um ano, porém, percebeu-se que era pouco produtivo, porque o trabalho parecia sempre recomeçar do zero. Optou-se por um núcleo permanente, que trabalha com brigadas renováveis. No total, cerca de mil sem-terra participaram da obra.

O MST também pôs a prova o conceito de que um trabalhador não é superior ao outro, mesmo que um deles não saiba ler e o outro seja o engenheiro responsável pela obra. Tudo era baseado em decisões coletivas.

Na semana passada, com as obras atrasadas, o clima de trabalho era febril. Um dos mais animados era Valdir Gilli, de 23 anos. Ele foi recrutado no interior de Rondônia, há 20 meses. De lá para cá aprendeu a trabalhar como pedreiro e carpinteiro. Também casou-se com uma moça da região e já tem uma filha, nascida há 15 dias. Diz que quando conquistar um lote de terra, vai construir sua própria casa.