Título: Posições firmes, a força e a fraqueza de Greenhalgh
Autor: Denise Madue¿o, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Nacional, p. A6

Não é de hoje que o temperamento forte e a firmeza nas posições criam problemas ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), candidato oficial do PT à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP) na presidência da Câmara. Amigos, admiradores de sua história, acham que Greenhalgh peca pelas virtudes e apontam suas qualidades como um dos principais obstáculos ao seu nome. Participante ativo da história da resistência política à ditadura militar, Greenhalgh conquistou notoriedade nacional ao defender presos políticos, empunhar a bandeira da anistia e advogar a favor dos sem-terra. É essa trajetória construída fora do parlamento que leva seus adversários a tachá-lo de um estranho no ninho.

"As dificuldades ao nome de Greenhalgh são por dois motivos: ele não tem história na Câmara - é considerado muito "verde" - e enfrenta resistências mais pelas virtudes do que pelos defeitos. Ele é visto como uma pessoa muito rígida, com pouco jogo de cintura. Mas é uma boa figura", resume o deputado Alberto Goldman (SP), líder do PSDB em exercício.

Os arquivos da Câmara mostram, no entanto, que o deputado não é ausente como os adversários apregoam. Em 2003, ele esteve presente em 91,7% das sessões deliberativas, nas quais há matéria em votação. Em 2004, esteve em 89,7% das sessões. A participação é próxima à do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que lançou candidatura avulsa à presidência da Câmara: 94,7% em 2003 e 97,9%, em 2004. Nas intervenções no plenário, os números também são próximos. Greenhalgh fez 57 discursos nos últimos dois anos de mandato e Virgílio, 56.

OBSTINAÇÃO

Na avaliação de petistas, na presidência da Câmara Greenhalgh terá de domar seu comportamento "impetuoso e combativo" e assumir uma posição de "centrão" e de "moderador". A obstinação do deputado petista na defesa de suas idéias provocou o rompimento com o próprio pai, Aloysio de Menezes Greenhalgh.

Em 1973, ao ter um amigo preso no Doi-Codi, a polícia política do Exército, o então estudante de direito, que sonhara também ser médico, descobriu um novo rumo para sua carreira profissional. Abdicou, então, de assumir o escritório de advocacia do pai, especializado em desapropriações.

Em represália, o pai o fez devolver o carro que usava, a sair de casa e a bancar as suas próprias despesas. Greenhalgh foi morar na casa do zelador de um prédio na Bela Vista, na zona central de São Paulo. No local, hoje, mantém seu escritório político.

A reconciliação veio três anos depois, quando o pai aconselhou Greenhalgh, já advogado de presos políticos, a não "abaixar a crista" ao general Dilermando Gomes Monteiro, comandante do II Exército. Monteiro o ameaçava de processo, acusando-o de ser mais comunista do que os seus clientes presos no episódio conhecido como a queda da Lapa - estouro do aparelho do Comitê Central do PC do B, em dezembro de 1976, no bairro da Lapa.

O jovem advogado havia denunciado que seus clientes estavam sendo torturados e pedia a apresentação dos presos, o que foi negado pelo general.

Greenhalgh, no entanto, não foi o primeiro da família a entrar na política. Seu pai foi vereador duas vezes pelo PTB, mas se afastou da política após o golpe de 1964 e advogou até a morte, em 1977.

Aos 56 anos, este é o primeiro dos quatro mandatos de deputado que Greenhalgh assume como titular - nos outros três, começou como suplente.

LULA

A amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é antiga. Vem desde o tempo em que Greenhalgh defendeu o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, preso com base na extinta Lei de Segurança Nacional. Nesse tempo, nasceu o apelido Mococa, usado até hoje por Lula ao se referir a Greenhalgh.

O deputado conta que, sempre que ia à casa de Lula, levava uma lata de leite para os filhos dele, que gritavam: "O Mococa chegou." O apelido ficou. A amizade dos dois se fortaleceu na época da Constituinte, quando dividiram um apartamento da Câmara, junto com Virgílio Guimarães.

Greenhalgh se vangloria de ser um ótimo pescador. Exibe em sua sala um troféu que recebeu ao fisgar um jaú de 37 quilos. A despeito da aparência sisuda, Greenhalgh se define como um romântico, que costuma relaxar nos fins de semana ao som de Roberto Carlos.