Título: Avião de Lula chega e governo diz que Airbus vai investir no País
Autor: Leonel Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Nacional, p. A7

O Airbus ACJ comprado pela Presidência da República pousou ontem de manhã na Base Aérea de Brasília e, segundo o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, trouxe uma boa notícia: como contrapartida à compra, a Airbus Industries vai produzir componentes de aviões no Brasil e transferir tecnologia para o Centro Aeroespacial Brasileiro, com investimento aproximado de US$ 95 milhões, equivalente a 170% do preço do avião, O custo total do ACJ é de US$ 56 milhões, do qual falta pagar uma parcela de US$ 5 milhões, a vencer em março (8,9% do total). O investimento da Airbus criou, em São José dos Campos (SP), a empresa Sopeçaero, em parceria com a belga Sonaca, para produzir componentes para aviação. No seu primeiro ano (2004), o investimento total foi de US$ 2,3 milhões (1,34% da contrapartida prometida). A empresa promete concluir o investimento até 2010 e prevê que serão gerados 300 empregos. O contrato firmado com o governo brasileiro prevê, ainda, a transferência de tecnologia para a Força Aérea Brasileira (FAB), incluindo a realização de cursos de mestrado e doutorado em engenharia aérea, disse o brigadeiro.

ESTRÉIA

O novo avião da Presidência pousou ontem em Brasília vindo da França. A chegada estava prevista para sexta-feira, mas problemas burocráticos atrasaram a chegada. O ACJ tem 33 metros de comprimento, 11 metros de altura, autonomia de vôo de 8,4 mil quilômetros e pode levar 55 passageiros. Sua primeira viagem já está marcada para quarta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja a Tabatinga, no Amazonas.

Em todas as viagens presidenciais, mesmo dentro do Brasil, o ACJ terá três pilotos a bordo, dois na operação de pilotagem e um de reserva. De acordo com a Aeronáutica, cada hora de vôo do avião custará US$ 2,1 mil, perfazendo um custo total de US$ 2,5 milhões por ano (segundo a estimativa de 1,2 mil horas de vôo por ano). O Sucatão - o velho Boeing 707 da Presidência - consome cerca de US$ 7 mil por hora de vôo.

SUCATÃO

A Aeronáutica aponta outros problemas no Sucatão, como o alto nível de ruído, que obrigava o governo brasileiro a pagar altas taxas para pousar em aeroportos do primeiro mundo. Alguns países proíbem que o Boeing 707 aterrisse em seus aeroportos. O novo avião tenha uma vida útil estimada de 30 anos. No entanto, o comandante Luiz Carlos Bueno acha que esse tempo pode perfeitamente ser estendido para 50 anos. O Sucatão foi construído em 1968 e comprado pelo governo brasileiro em 1986, durante o governo Sarney.

A Aeronáutica não permitiu que a imprensa entrasse no avião, na apresentação feita ontem de manhã, na Base Aérea de Brasília. Mas distribuiu imagens do interior do aparelho. As fotos mostram que as dependências reservadas ao presidente têm uma cama "de viúva" (pouco maior que a de solteiro). "O presidente vai ter de emagrecer para usá-la", brincou Luiz Carlos Bueno. As poltronas são similares às de primeira classe, estofadas de couro. O avião tem ainda mesa de refeição, armários, frigobar, e um banheiro com ducha.