Título: Superávit teve apoio maior de cinco países
Autor: Irany Tereza, Colaborou: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Economia, p. B3

O crescimento do superávit comercial do Brasil em 2004 foi concentrado em cinco países, com os quais teve aumento líquido expressivo nas transações. O avanço do saldo com Argentina, Estados Unidos, México, Venezuela e Países Baixos somou US$ 5,9 bilhões de janeiro a novembro do ano passado, o equivalente a 73% do aumento do saldo comercial brasileiro, de US$ 8,144 bilhões, naquele período. Os valores levam em conta os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) para os 11 meses de 2004. Os dados do comércio exterior detalhados por países até dezembro ainda serão divulgados pela secretaria. O superávit, que somava US$ 30,2 bilhões até novembro, totalizou US$ 33,7 bilhões nos 12 meses de 2004.

Num caminho inverso, o saldo comercial com três países - Nigéria, Argélia e China - piorou em US$ 2,8 bilhões até novembro. No caso dos países africanos, o déficit aumentou. Com a China, o superávit encolheu no período. O saldo caiu de US$ 2,3 bilhões para cerca de US$ 1,7 bilhão. Isso se deveu, basicamente, ao avanço de 73% nas importações brasileiras do país asiático - as exportações para lá cresceram só 19%.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, confirma que o superávit não teve um crescimento diversificado. "Isso é verdade, mas não deixa de ser um fenômeno natural", diz o economista da Tendências Consultoria, Frederico Estrella, citando que os Estados Unidos são o maior parceiro comercial do Brasil, e a Argentina começa a se recuperar da crise de 2001.

O superávit cresceu, nos 11 meses, em US$ 1,776 bilhão para a Argentina, US$ 1,291 bilhão para os Estados Unidos, US$ 1,085 para os Países Baixos (a partir desta área os produtos são distribuídos para outros países europeus), US$ 889,327 milhões para México e US$ 844,136 milhões para a Venezuela. O superávit com o México cresceu 44% de janeiro a novembro de 2004, empurrado principalmente pelas exportações de veículos e de soja.

Segundo Estrella, não há contradição entre o fato de o Brasil diversificar exportações, por destinos e produtos, e a concentração do saldo. "A diversificação realmente está ocorrendo. Mas como o comércio com estes países ainda é baixo, por mais que haja crescimento o valor ainda não é tão substancial quanto o de destinos mais tradicionais", comentou Estrella. A questão dos grandes mercado para o Brasil foi levantada esta semana pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, em entrevista ao Estado. Segundo ele, o Brasil deve avançar mais sobre os mercados dos países ricos.