Título: Pequena empresa adere à exportação
Autor: Irany Tereza, Colaborou: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Economia, p. B3

O universo dos novos exportadores é formado basicamente por pequenas e médias empresas, que ainda não têm peso suficiente para desconcentrar a pauta brasileira. Os produtos que ocupam as primeiras colocações no ranking de exportações são fornecidos por grandes empresas, mas algumas mudanças estruturais já começam a ocorrer, como lembra Alessandro Teixeira, da Agência para a Promoção das Exportações do Brasil (Apex). "Os grãos, que ocupavam o primeiro lugar em exportações, passaram para a terceira colocação. Temos agora materiais de transporte e materiais elétricos puxando as vendas. A estrutura da economia não se muda do dia para a noite. Não vai haver modificação a curto prazo, mas vamos preparar o ambiente para que a exportação não seja vista somente como uma válvula de escape para uma eventual demanda interna fraca", diz Teixeira.

Há dez anos o médio empresário José Adolfo Queiroz iniciou, na cidade de Artur Nogueira, interior de São Paulo, a produção de roupas para bebês com times de futebol. Hoje, tem licença de fabricação com os 16 principais clubes nacionais, mas a confecção ainda funciona num galpão improvisado. Viajando pelos Estados Unidos e Europa, ele descobriu que havia um nicho para o seu produto. Depois de entrar num consórcio da Apex há um ano e meio, ele fechou seu primeiro negócio internacional em agosto do ano passado com o alemão Hansa Rostock, no valor de 4,8 mil (cerca de R$ 17 mil), para exportação de "kits bebê": macacão, boné, tênis e babador.

Vieram depois o Mainz, também da Alemanha, o RCZ, da Suíça, e o italiano Inter de Milão. "A resposta tem sido muito rápida e positiva. Pouco mais de um mês depois dos primeiros pedidos, os clubes voltam a nos procurar com novas encomendas. Já fomos incluídos no catálogo oficial do Inter e vamos fechar este mês contratos com o Milan e o Roma. Fechamos acordo com um distribuidor na Itália e esperamos vender 200 mil somente para este mercado agora em 2005", comemora Queiroz, que está construindo uma fábrica em Campinas com previsão de inauguração em setembro. "Para receber os clientes internacionais não podemos ter como apresentação um galpão", explica. Até 2006, ele espera que as exportações dobrem sua produção, hoje em torno de 60 mil peças/mês.

Ricardo Medina, proprietário da empresa de cosméticos Trandova, em Bauru, também está reestruturando todo o seu processo produtivo de olho nas vendas internacionais. Medina está há apenas um ano no mercado, com uma linha de maquiagem de produção totalmente terceirizada. Ele comenta que já iniciou o negócio pensando também em exportar. "O Brasil está só engatinhando na atividade exportadora, mas não se pode formatar um negócio pensando somente no mercado interno", diz ele, que ainda busca informações sobre exigências fitossanitárias para iniciar contatos de vendas em países da América Latina. "Depois, pensamos no Oriente Médio e só com muito amadurecimento, Estados Unidos e Europa."

De acordo com a Apex, a ampliação da pauta exportadora tem ocorrido com maior força também para novos parceiros. As vendas para o mercado árabe cresceram 240% no ano passado e alguns países africanos, como a Libéria despontam como grandes compradores de produtos brasileiros, como móveis, cujo mercado é formado por empresas de porte médio.

Setores que antes não se arriscavam no mercado internacional, como o de cimento, estão agora buscando no exterior uma maneira de elevar seus lucros. A Cimento Tupi fechou em janeiro um acordo para utilizar as instalações da Valesul no Porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro, para exportar para os Estados Unidos. A intenção é vender cerca de 300 mil toneladas de cimento este ano e chegar à marca de 800 mil até 2007.

O diretor-financeiro e de Relações com Investidores companhia, Demétrio Simões, explica que com isso a empresa consegue usar a capacidade ociosa nas fábricas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Ele calcula que a ida da companhia para o mercado externo deve elevar o faturamento em mais US$ 15 milhões (R$ 40,5 milhões) em 2005. No ano passado, a Cimento Tupi faturou cerca de R$ 350 milhões. "Ao exportar a companhia passa a ter um faturamento em moeda forte e entra em um mercado consumidor novo. Ela passa a ter hedge natural (proteção) contra oscilações cambiais. Além disso, ainda passa a ter um crédito mais barato."