Título: Argentina acusa Furlan de prejudicar Mercosul
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Economia, p. B3

O subsecretário de Integração da chancelaria argentina, Eduardo Sigal, acusou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Luiz Fernando Furlan, de "dar voz a setores políticos e sociais que não têm como prioridade o fortalecimento do Mercosul". Em entrevista publicada pelo Estado na quinta-feira, Furlan se queixou do fato de o Brasil "priorizar o fechamento de acordos limitados com o Grupo Andino ou com mercados pouco expressivos". "Há setores no governo brasileiro que ainda não entenderam que o grande mercado que temos de abrir é o dos países ricos", afirmou o ministro. Furlan também atacou a atitude da Argentina dentro do bloco comercial. "Não podemos continuar pagando a conta de grupos que, dentro do Mercosul, não investem, não se modernizam e bloqueiam tudo", disse, em referência indireta ao principal parceiro do Brasil no bloco. A Argentina restringiu as importações de geladeiras e outros eletrodomésticos fabricados no Brasil, num endurecimento comercial que irritou empresários e políticos.

"O Mercosul tem dificuldades e limitações", admitiu Sigal. "Não seria muito difícil buscar a causa dessas dificuldades na existência de setores políticos e sociais que não têm como prioridade a construção e o desenvolvimento do bloco. É exatamente a esses senhores que o senhor Furlan vem dando sua voz."

Segundo Sigal, "é hora de expressarmos nossa vontade de dar um salto em qualidade no Mercosul, não somente esclarecendo e retificando os discursos de Furlan, como também em iniciativas concretas para abordar os entraves que condicionam o bloco".

Na opinião do subsecretário, o Mercosul é um "palanque de projeção para o mundo de todos os nossos países, como ferramenta de desenvolvimento produtivo e de justiça social". "Estamos convencidos de que o governo do Brasil compartilha este enfoque e seria bom que isso fosse expressado depois das infelizes declarações de um de seus funcionários", criticou Sigal.

Para uma fonte do Ministério da Economia argentino, as críticas de Furlan não têm importância porque não são apoiadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por boa parte do seu governo. "Para ser parceiro dos ricos, é preciso haver interesse deles. Estas posições não têm nenhuma importância, se desvirtuam sozinhas. Felizmente o presidente Lula e boa parte de seu governo têm outra posição."