Título: Mercado já reavalia PIB de 2005
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Economia, p. B4

A economia brasileira poderá surpreender mais uma vez este ano. Bancos de investimentos, consultorias privadas e até indústrias começam a rever para cima as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2005, mesmo mantendo prognósticos de que a taxa básica de juros continuará subindo no 1.º trimestre. As novas estimativas apontam para um acréscimo de até 0,6 ponto porcentual do PIB em relação às taxas iniciais de crescimento. Com isso, o País poderá crescer até 4,3%, segundo instituições consultadas pelo Estado. Esse resultado está acima da projeção do Banco Central, que é de 4%, mas abaixo do desejo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que chegou a falar numa taxa de 5%.

O investimento robusto, o consumo maior das famílias brasileiras, impulsionado pela recuperação do emprego e da renda, e a própria inércia do crescimento do último trimestre de 2004, que influencia a atividade neste início de ano, são fatores apontados pelos analistas para ampliar as estimativas.

O BNP Paribas, por exemplo, reviu de 3,4% para 4% a taxa de crescimento do PIB para este ano. O estrategista-chefe da instituição, Alexandre Lintz, observa que a decisão foi tomada depois que saíram indicadores importantes do fim de 2004, como a venda de veículos e de papelão ondulado, apontando para um ritmo maior de produção industrial.

Com isso, o economista reviu de 0,2% para 0,9% o crescimento do PIB do último trimestre e a projeção para este ano. "Há uma inércia de 2004, que faz com que o ano comece num patamar mais alto." Ele ressalta também que a forte taxa do investimento, que atingiu 21% do PIB no 3.º trimestre, deverá ser mantida este ano e vai garantir a sustentabilidade do crescimento.

"Vamos crescer mais em 2005, apesar da elevação da taxa Selic nos últimos meses", afirma o economista-chefe da Itaú Corretora, Guilherme da Nóbrega. Ele reviu de 4,1% para 4,3% as projeções de crescimento. "Fizemos essa pequena revisão por causa do cenário mais favorável para o investimento."

Nos últimos 10 anos, a economia brasileira ganhou produtividade e aumentou a sua capacidade de crescer, observa o economista. Isso só não se traduziu em números porque a sucessão de crises externas, iniciada pela mexicana, brecou o crescimento. "Fizemos um estudo e concluímos que a economia tem capacidade para crescer 3,9% ao ano nos próximos 5 anos, sem pressões inflacionárias."

O Banco Schahin trabalhava desde outubro com expectativa de que o PIB deste ano cresceria 3,9%. Agora atualizou o prognóstico para 4,1%, segundo o economista-chefe, Cristiano Oliveira. Ele destaca como motor desse crescimento o consumo das famílias, que responde por quase 60% do PIB. Isso já foi refletido nas vendas de veículos e papelão ondulado no fim de 2004. "Eu também não contava com a inércia do ano passado."

Cristiano diz que as intenções de investimentos nas áreas petrolífera, imobiliária e energética, segmentos em que o grupo atua, são crescentes, o que reforça a tese de que não houve uma acomodação do investimento. "Talvez os investimentos não sejam suficientes para atender a demanda", observa.

O Dresdner elevou de 3,5% para 3,7% a projeção de alta do PIB para este ano. Nuno Camara, economista da instituição para a América Latina, diz que a mudança foi provocada pela melhor perspectiva de investimento e consumo das famílias, além da estabilidade da economia. "Não acho que o investimento vai recuar com o aumento dos juros. As empresas se financiam com recursos próprios e poupança externa", ressalta.

"Revisamos para cima a projeção do PIB porque contamos com um cenário interno melhor", afirma o economista-chefe da Sul América, Newton Rosa. Em novembro a projeção de crescimento estava em 3,6%, e agora subiu para 4%. Além do bom desempenho do investimento no 3.º trimestre, ele ressalta que há indicadores antecedentes que mostram que a economia está crescendo fortemente, embora já tenha tido um certo arrefecimento marginal por conta da subida dos juros a partir de setembro de 2004.