Título: Airbus apresenta o gigante A380, novo trunfo na briga com a Boeing
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2005, Economia, p. B10

A Airbus espera repetir com a apresentação oficial do A380, na terça-feira, em Toulouse, as mesmas festividades organizadas no passado, quando do lançamento do Concorde, o primeiro avião supersônico comercial do mundo. Agora, trata-se do aparelho com maior capacidade de transporte de passageiros do planeta, com 550 poltronas. O gigante dos céus permitirá ao consórcio europeu se impor no mais alto nível da aviação comercial mundial, à frente de seu grande concorrente, a Boeing americana. Mais de 5 mil convidados, sendo 500 jornalistas, além de personalidades como o presidente Jacques Chirac e os primeiros-ministros britânico Tony Blair, alemão, Gehard Schroeder, e espanhol, José Luiz Zapatero, deverão estar presentes à cerimônia, que será precedida por um verdadeiro balé de aterrissagens no aeroporto de Toulouse-Blagnac, cujo pátio de estacionamento é limitado.

Até agora, o número de encomendas do A380 é de 130 aparelhos, devendo chegar a 150 até o final do mês de março. Na semana passada, 10 aparelhos foram encomendados pela United Parcel Service (UPS) para o transporte de carga. Outras companhias deverão confirmar suas encomendas muito rapidamente, entre elas a Thai Airways e a Etihad, uma companhia dos Emirados Árabes. A própria direção da alemã Lufthansa poderá confirmar a compra de aparelhos suplementares a uma encomenda anterior de 15 unidades do A380.

O programa prevê a venda de um total de 750 unidades do A380 durante toda sua história, o que significa um faturamento de US$ 150 bilhões. Seu custo unitário é de US$ 200 milhões.

O Airbus A380 é um produto que surge com a pretensão de envelhecer os seus mais diretos concorrentes, os Boeings 747, 777 e até o novo 7E7, em tamanho e em modernidade. A Boeing perdeu mais alguns pontos em 2004 na batalha comercial contra a rival européia. No ano passado o consórcio europeu entregou 320 aparelhos, enquanto a Boeing se limitou a 285, uma liderança confirmada pelo segundo ano consecutivo. Essa tendência deverá prosseguir esse ano, pois a Airbus projeta entregar entre 350 e 360 aparelhos em 2005.

A mudança da direção da Airbus, através da promoção de seu presidente, Noel Forgeard, para a co-presidência do grupo aeronáutico e de defesa EADS, controlador do consórcio, não afeta em nada os planos anteriores. A empresa vem conseguindo operar com margens melhores. Para isso, foram necessários progressos para reduzir o tempo de produção. Em 2003 eram necessários nove meses para a produção de uma unidade do modelo A340. Hoje, esse tempo não é superior a seis meses. Outra grande vantagem dos aviões fabricados pelo consório europeu diz respeito à qualidade de serviço. No máximo em duas horas, o construtor pode responder a um problema técnico ocorrido num de seus aviões em qualquer lugar do mundo.

Além do A380, a Airbus prepara-se também para lançar o modelo A350, um avião de 250 lugares, futuro concorrente do 7E7 da Boeing. O financiamento desse modelo vai depender das negociações sobre ajudas públicas entre americanos e europeus, depois de um cessar-fogo de três meses decretado por ambas as empresas, na batalha que travam na OMC. Para a construção desse modelo, a Airbus conta com um parceiro fundamental, a China, país que deverá se trasnformar, nos próximos vinte anos, no segundo mercado da aviação civil mundial.

Estima-se que a frota comercial chinesa nas próximas duas décadas vai passar de 1,2 mil para 2,8 mil aparelhos. A China está encomendando algumas dezenas de 7E7, razão pela qual a Airbus decidiu associá-la à construção de seu modelo A350, elegendo esse país como um parceiro prioritário.

No caminho de rosas da Airbus, porém, alguns espinhos surgiram na véspera da festa do lançamento do A380: foram descobertas microfissuras nas asas do modelo A340, obrigando a empresa a controlar o conjunto da frota de aparelhos espalhados pelo mundo. Isso não chega a ser uma catástrofe para o modelo, pois os aviões continuam voando, mas terão de sofrer uma revisão de fábrica para a correção de eventuais defeitos.

Esse quadro entre os dois gigantes da aeronáutica internacional levou os negociadores Peter Mandelson, novo comissário para o comércio da União Européia, e o americano Robert Zoellick a caminhar para uma negociação com objetivos bem identificados. No caso, chegar a um acordo global sobre o fim dos subsídios, procurando estabelecer um mercado competitivo leal para o desenvolvimento de aparelhos Airbus na UE e Boeing nos EUA.