Título: Virgílio chegou a mandar carta ao PT para desejar sorte a Greenhalgh
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2005, Nacional, p. A4

Em nova tentativa de convencer o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) a não enfrentar o candidato oficial do partido, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), na disputa pelo comando da Câmara, o presidente do PT, José Genoino, fez mais um gesto de aproximação. "Se o Virgílio entendeu que eu vetei o nome dele durante as negociações, peço desculpas publicamente", afirmou. Uma carta assinada pelo deputado mineiro - e obtida pelo Estado - mostra que ele chegou a desejar sucesso a Greenhalgh em sua empreitada. A novela petista para definir o candidato à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP) teve o capítulo decisivo pouco antes do Natal, no dia 22 de dezembro, quando o presidente do PT solicitou a Virgílio que, em nome do consenso, retirasse seu nome em favor de Greenhalgh. A essa altura, os deputados paulistas Arlindo Chinaglia (SP) e Professor Luizinho (SP) já haviam feito o mesmo. Virgílio pediu prazo para pensar, mas, poucas horas depois, entregou a Genoino uma carta - cujo conteúdo permaneceu em sigilo até ontem - com votos de boa sorte a Greenhalgh. Dias depois recuou e decidiu enfrentá-lo, com o apoio da bancada mineira e do movimento intitulado Câmara Forte, que reúne parlamentares do baixo clero. "Desejo ao companheiro Luiz Eduardo Greenhalgh êxito em sua jornada, fazendo votos de que dê continuidade ao excelente trabalho que o companheiro João Paulo Cunha vem desenvolvendo", escreveu Virgílio. No texto de apenas seis linhas, datado de 22 de dezembro e endereçado à Comissão Eleitoral do PT, o deputado abdicava da indicação do partido para disputar a presidência da Câmara, em eleições marcadas para 14 de fevereiro. "Quando conversei com Virgílio, não me passou pela cabeça vetar seu nome, mas agora vejo que ele ficou magoado e me desculpo. O que não tem sentido é esse processo de disputa interna. Toda vez que o PT se divide, ele se enfraquece e isso só aumenta a insegurança dos aliados", disse Genoino, tentando pôr panos quentes no confronto. INCONFIDÊNCIA Na prática, o Palácio do Planalto e a cúpula do PT temem que o desafiante de Greenhalgh transforme sua candidatura em uma "inconfidência mineira", levando o nome a plenário e ameaçando o concorrente apoiado pelo governo. Num movimento de vaivém, Virgílio ora dá sinais de que vai desistir, ora parece decidido a se manter no páreo. Mas, a todos os interlocutores, chora suas mágoas sobre o processo de escolha que culminou com a consagração de Greenhalgh. Motivo: acha que foi preterido tanto por Genoino como pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula já conversou com Virgílio duas vezes. Na primeira, tentou mostrar-lhe que não interferiu na indicação do candidato. Mais: afirmou que, como militante do PT, sempre respeitou as decisões do partido. "E olhe que muitas vezes eu perdi", insistiu. A segunda conversa, há três dias, foi mais dura. Lula e João Paulo Cunha garantiram a Virgílio que sua peregrinação por votos estava causando muitos problemas. Além disso, prometeram que ele não ficaria mal com a retirada da candidatura. Em outras palavras: todos os gestos de apreço seriam feitos para mostrar seu prestígio. "Quero deixar claro que posso receber encargos, mas não quero cargos no governo", destacou Virgílio. A incógnita, portanto, permanece. "O Virgílio é assim mesmo: uma metamorfose ambulante", definiu um colega de partido. O deputado deverá anunciar sua decisão final na semana que vem. Enquanto isso, o movimento Câmara Forte, liderado pelo deputado João Leão (PL-BA), prepara para terça-feira o lançamento oficial de sua candidatura, em grande estilo. Com direito a panfletos, cartazes e adesivos.