Título: Airton, Bete e Eudes ouviram bases antes de sair
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2005, Nacional, p. A8

Os três deputados que o PT renegou - Bete Mendes, José Eudes e Airton Soares - anunciaram que iriam ao Colégio Eleitoral votar em Tancredo Neves ainda em outubro de 1984, três meses antes da eleição. O PT começou a fustigar os três imediatamente, embora eles tenham tido a precaução ideológica de consultar suas bases sobre o que fazer - e aos três as bases aconselharam o voto no candidato oposicionista. Os três entregaram seus pedidos de desligamento entre fevereiro e maio de 1985. Airton Soares era o líder da bancada do PT e um dos deputados mais influentes da Câmara. Fez-se conhecido ao defender muitos presos políticos em São Paulo. Fora eleito pelo MDB em 1974 e 1978, e saiu do partido em 1980 para fundar o PT. Em 1982, elegeu-se com 82 mil votos e tornou-se líder da bancada logo no começo da legislatura.

Depois de desligar-se do PT foi candidato a deputado em 1986 pelo PMDB, mas perdeu, embora alcançasse 34 mil votos. Naquele ano Lula foi candidato pelo PT e teve uma votação extraordinária, o que favoreceu o voto de legenda do PT, que elegeu candidatos com menos de 20 mil votos. Se não tivesse saído do PT Airton estaria eleito. Depois ele foi candidato a prefeito (em 1999), a deputado federal (1990) e a vice-prefeito (1992), sempre pelo PDT, sem êxito. Hoje advoga em São Paulo e ainda é filiado ao PDT.

Bete Mendes teve um passado de ativista política e, na década dos 70 foi uma das mais elogiadas atrizes de teatro e TV do País. Em 1982, foi demitida pela TV Cultura e, em vez de procurar outro emprego de atriz, inscreveu-se no PT e elegeu-se deputada federal por São Paulo. Dos três, foi a única que conseguiu reeleger-se em 1986, já no PMDB, de onde depois foi para o PSDB. Em 1987 foi secretária de Cultura de São Paulo. Em 1985 passou pelo constrangimento de - já deputada e integrante da comitiva diplomática do presidente José Sarney ao Uruguai - reconhecer seu antigo torturador, então adido militar do Brasil em Montevidéu. O torturador foi afastado pelo governo.

José Eudes, como Airton Soares, elegeu-se em 1974 e 1978 pelo MDB e depois passou para o PT, alcançando 45 mil votos em 1982. Depois do desligamento foi chamado por Miguel Arraes e assinou ficha no PSB, mas logo transferiu-se para o PDT, pelo qual foi candidato em 1986, sendo derrotado. Mais tarde foi um dos fundadores do PSDB, mas nunca mais se candidatou. Hoje é diretor da Light Par, no Rio de Janeiro, e ainda está filiado ao PSDB.

O episódio do Colégio Eleitoral envolveu a primeira bancada federal do PT, eleita em 1982, apenas dois anos após a fundação do partido. Eram oito deputados (e nenhum senador), seis de São Paulo, um do Rio de Janeiro e um de Minas Gerais. Os deputados paulistas eram Airton Soares, José Genoino, Eduardo Suplicy, Djalma Bom e Irma Passoni. Em Minas conseguiu eleger-se Luiz Dulci e, no Rio de Janeiro, José Eudes.