Título: Uma nova lua ao alcance da ciência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2005, Vida &, p. A12

"O bebê está vivo", disse David Southwood, diretor de Ciências da Agência Espacial Européia (ESA), ao confirmar o sucesso da missão da sonda européia Huygens a Titã, a maior lua de Saturno. A nave pousou ontem sem maiores danos na superfície do satélite e, cinco horas após a sua entrada na atmosfera, continuava enviando dados - incluindo 350 fotografias -, superando as expectativas dos cientistas. Espera-se que as descobertas da Huygens ajudem os cientistas a entenderam como surgiu a vida na Terra. As primeiras fotos mostram linhas escuras que podem indicar a presença de líquido. Aparentemente, são canais escavados por líquido na superfície congelada - a temperatura na atmosfera é de cerca de 200 graus negativos. As imagens foram feitas a 16 quilômetros de altura, quando a sonda descia de pára-quedas.

Oficialmente, a ESA previa que a Huygens funcionaria por apenas três minutos após tocar a superfície, pois não se podia prever o efeito do impacto e o artefato poderia se espatifar numa rocha ou submergir em líquido.

Segundo a ESA, às 14h18 de Brasília chegaram os primeiros dados ao centro de controle em Darmstadt, Alemanha. E a Huygens continuou enviando informações da atmosfera, provando que resistiu tanto ao atrito aéreo quanto ao impacto na superfície. Cientistas e engenheiros saudaram com gritos e aplausos a chegada dos primeiros dados.

O alvoroço se justifica. Pela primeira vez na história da conquista espacial, foram coletadas informações da atmosfera da mais misteriosa lua de Saturno. "Somos os primeiros visitantes de Titã e estamos reunindo os segredos desse mundo", afirmou o diretor-geral da ESA, Jean-Jacques Dordain.

VIDA NA TERRA

A missão conjunta de US$ 3 bilhões entre a ESA, a Nasa e a Agência Especial Italiana (ASI) começou em 15 de outubro de 1997, quando a nave americana Cassini foi lançada da Terra transportando a Huygens, uma sonda de 2,75 metros de diâmetro e 320 quilos. Quase sete anos depois, em 1.º de julho do ano passado, a Cassini-Huygens entrou na órbita de Saturno. Em 25 de dezembro, a sonda desprendeu-se da nave.

O objetivo da Huygens era analisar a composição da atmosfera do satélite durante a descida. Mas, com o êxito da "aterrissagem", já coletou dados da superfície e enviou fotos, algo que não se esperava. Os dados poderão explicar as reações químicas que ocorrem em Titã, a segunda maior lua do Sistema Solar - atrás apenas de Ganymedes, de Júpiter. O satélite possui uma atmosfera muito densa, rica em nitrogênio e metano. Os cientistas supõem que esta atmosfera é similar à da Terra de 4 milhões de anos atrás e a sua análise poderia ajudá-los a descobrir como surgiu a vida em nosso planeta.