Título: Real forte segura inflação em 7,6%
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2005, Economia, p. B1

A queda na cotação do dólar ajudou a segurar reajustes de produtos importantes como alimentos e reduziu a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) no ano passado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice atingiu 7,6% em 2004 e encostou no teto da meta oficial de 8% - dispensando o Banco Central de enviar à Fazenda uma carta explicando as razões do estouro da meta, o que ocorreu nos três anos anteriores. O resultado é divulgado no momento em que a política cambial é alvo de críticas no próprio governo, com ataques à valorização do real.

O centro da meta era de 5,5%, e foi ultrapassado já em outubro do ano passado. A gasolina foi a principal vilã da inflação no ano e exerceu pressão inclusive no índice de dezembro, de 0,86%. A taxa, também divulgada ontem, veio acima da expectativa do mercado financeiro e aumentou as apostas em nova alta de 0,5 ponto porcentual da taxa básica de juros (Selic) neste mês.

O grupo Alimentação e Bebidas subiu 3,86%, bem abaixo da inflação, e foi fundamental para garantir que o IPCA de 2004 ficasse dentro da meta. As eleições também ajudaram a conter a taxa, pois evitaram reajustes de ônibus urbanos nas principais regiões metropolitanas, como São Paulo.

Os dados do IBGE também mostram que a crise internacional do petróleo empurrou para cima os preços dos combustíveis no ano passado. Para Paulo Levy, diretor de Macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o IPCA confirmou que o regime de metas de inflação foi bem-sucedido, já que o BC conseguiu segurar a taxa apesar de choques de preços importantes, como o do petróleo e do aço. Ele observou que o controle da inflação ocorreu em ambiente de forte crescimento econômico, o que é positivo.

A gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, disse que a inflação em 2004 foi pressionada especialmente pela alta dos preços internacionais do petróleo, a "alta substancial" nos preços da cana-de-açúcar e os reajustes em insumos como o aço, além de aumentos nas tarifas. Já a boa safra agrícola e a queda na cotação do dólar seguraram os preços dos produtos alimentícios.

Ainda que o grupo Comunicação (13,91%), tenha apresentado a maior variação entre os nove pesquisados pelo IBGE no ano passado, o grupo Transportes (10,99%) exerceu a maior contribuição (2,33 ponto porcentual) sobre a taxa, principalmente por causa da gasolina. Com três reajustes nas refinarias a partir de junho, a gasolina teve acumulado de 14,64% nas bombas em 2004 e representou o maior impacto individual (0,59 ponto porcentual) para a inflação do ano.

Apesar do forte impacto sobre a taxa, o aumento da gasolina nas bombas foi bem inferior ao acumulado nas refinarias (23,3%). Os outros impactos individuais mais importantes foram telefone fixo (14,64%) e energia elétrica (9,64%).