Título: Cúpula do PT negocia para evitar vaias ao presidente
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Nacional, p. A4

A cúpula do PT está há mais de três meses negociando com os movimentos sociais para evitar vaias ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua rápida passagem pelo Fórum Social Mundial. Depois de perder a prefeitura de Porto Alegre - sob seu comando havia 16 anos -, seguir a cartilha do neoliberalismo econômico, fechar acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e não cumprir as metas de reforma agrária no governo federal, o PT teme que Lula seja hostilizado no encontro por grupos radicais. "Queremos dialogar com nossa base social e política, mesmo havendo mal-estar em relação ao governo", afirmou o presidente do PT, José Genoino. "Divergências nós aceitamos. O que não dá para aceitar é xingamento e torta na cara", completou.

Em 2003, no mesmo fórum de Porto Alegre, Genoino foi agredido por uma moça que depois se identificou como representante de organização de ultra-esquerda, intitulada "Confeiteiros sem Fronteiras". O presidente do PT dava entrevista e contava o que Lula faria em Davos, na Suíça, quando a jovem atirou uma torta de morango com chantilly em seu rosto.

Em outubro do ano passado, o próprio Lula fez críticas à "falta de foco" do Fórum Social Mundial. Com a intenção de corrigir os rumos do encontro, disse que seus participantes deveriam eleger um ou dois temas como bandeiras de luta. "Se não, o fórum se transforma numa feira de produtos ideológicos, onde cada um vem, compra o que quer, vende o que quer e a gente vai embora sem ter firmado um compromisso (...) para cobrar dos governantes, dos partidos e de outros setores", argumentou.

Desta vez, dez ministros devem acompanhar o presidente a Porto Alegre. Lula falará no Estádio Gigantinho, com capacidade para 15 mil pessoas. "Ele foi consultado e concordou em fazer o discurso num lugar maior. A previsão anterior é que ele falasse no auditório Araújo Viana, onde só entram 4 mil pessoas. Quer dizer, estamos todos tranqüilos", amenizou o gaúcho Paulo Ferreira, secretário de Assuntos Institucionais do PT.

Apesar de acreditar na "tolerância" dos movimentos sociais em relação ao governo, o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno, vê risco de Lula ser vaiado. "É possível que isso aconteça, porque uma grande massa popular estará no Fórum Social. Sempre há descontentes no meio do povo; então, um pequeno grupo pode começar a vaiá-lo e contaminar todo o resto", disse dom Tomás, que também participará do encontro.

Crítico do governo, o presidente da CPT acredita que, se Lula for vaiado, deve encarar a situação com "serenidade". "O que salva o Lula é sua ligação com os movimentos sociais e o diálogo que tem com seus representantes. Na verdade, ainda não houve a ruptura por causa desse diálogo", observou.