Título: Organização prevê a maior das cinco edições do fórum
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Nacional, p. A4

Se as previsões dos organizadores se confirmarem, será a maior das cinco edições do Fórum Social Mundial - um evento movido pelo desejo de mudar o mundo. Esse é um rótulo amplo, que comporta muitas vertentes, mas não existe outro capaz de dar alguma unidade às dezenas de milhares de pessoas que vão se reunir em Porto Alegre entre os dias 26 e 31. De chefes de Estado a representantes de cooperativas de catadores de papel, passando por teólogos, escritores, índios, trabalhadores rurais, estudantes, juízes, desempregados, todos chegarão dispostos a trocar idéias sobre como corrigir injustiças sociais e frear os impactos negativos do processo de globalização econômica. "São os que se recusam a aceitar o neoliberalismo como um modelo indiscutível", define Chico Whitaker, um dos idealizadores do encontro, há seis anos.

Da Favela Heliópolis - amontoado de casas pequenas e pobres que se espalha por uma área de 1 milhão de metros quadrados, com 120 mil pessoas, na zona sul de São Paulo - vão dois jovens: Elaine Ribeiro, de 18 anos, e Wellington de Souza, de 16. Pretendem ouvir muito e narrar alguns dos projetos bem-sucedidos da União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis, conhecida pela sigla Unas.

"Quero falar dos projetos para adolescentes", diz Elaine, que começou a participar das atividades da Unas há dois anos e recentemente foi convidada para trabalhar como orientadora.

Wellington, que desde os 14 anos participa de cursos e aulas sobre cidadania, sexualidade, artes plásticas e capoeira, deseja falar sobre a importância da educação para a população mais pobre. "Um sistema educacional ruim como o do Brasil só piora os problemas da fome e do desemprego", diz.

Os dois viajarão pela primeira vez de avião, patrocinados pela ActionAids, organização não-governamental que promove ações de inclusão social em 40 países e ajuda a Unas.

Além de ONGs, os projetos em Heliópolis são movidos com recursos da Prefeitura, dos governos estadual e municipal e também de empresas de transnacionais, com atividades globalizadas. Os grupos Whirlpool, que controla a Brastemp, e a Unilever, do sabão Omo, estão entre os patrocinadores da lavanderia coletiva da Unas.

ECONOMIA NA PERIFERIA

Johnson Sales também está de malas prontas. Líder do MH2O, movimento de hip hop de Fortaleza, vai contar como tem ajudado a incubar em várias cidades, no meio popular, o que chama de empresas alternativas. Elas se organizam em torno de atividades musicais, da dança e da pintura. Leia-se rap, break e grafite, que constituem a base do hip hop.

"São empresas organizadas coletivamente e onde o lucro individual não é o principal objetivo", explica. "Ele é reinvestido no projeto ou aplicado em lutas sociais."

Essas empresas também têm objetivo pedagógico, segundo Johnson. "Quando se fala em atividade econômica, as pessoas pensam na classe média. Para nós da periferia resta o social: a bolsa, o auxílio para isso e aquilo. Toda a força e a criatividade da juventude da periferia são deixadas de lado. Talvez isso explique porque 75% da população carcerária do País é constituída por esses jovens."

No total serão quase 2.500 eventos, entre oficinas, seminários, atividades artísticas, painéis, nos quais pessoas como Eliane, Wellington e Johnson poderão expor suas idéias sobre como melhorar o mundo.