Título: 'Disneylândia ideológica' gera lucros e antipatias
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Nacional, p. A5

Apesar da associação de seu nome com a capital gaúcha, o Fórum Social Mundial não é unanimidade em Porto Alegre. Há os que criticam a falta de pluralismo, o aspecto "exótico" e a linha política. Mas, seja por convicção ideológica ou interesse político e econômico, ele tem muitos defensores. Ficar contra o evento que projetou a cidade para o mundo seria uma atitude antipática. Assim como desprezar o dinheiro que milhares de visitantes deixam na cidade. O prefeito José Fogaça, do PPS, chegou a chamar o fórum de "Disneylândia ideológica" quando senador, mas na campanha eleitoral prometeu mantê-lo em Porto Alegre. Ao entregar o cheque de R$ 2 milhões aos organizadores, na terça-feira, pediu que fique na cidade.

Entre os críticos, o mais forte é o Instituto Liberdade, que defende a economia liberal. "O fórum poderia ficar na cidade, mas deveria evoluir para um formato mais plural. Como recebe dinheiro público para sua organização, deveria ser neutro e dar acesso a todos", diz seu presidente, o advogado Sérgio Lewin. A entidade montou uma "tropa de choque", com cientistas políticos, economistas, filósofos, advogados e empresários à disposição para ir a debates e dar entrevistas.

Um deles, o cientista político José Antônio Giusti Tavares, não faz rodeios: "Sou contrário à própria existência do fórum." Ligado ao PSDB, Tavares chama os participantes de "neocomunistas órfãos". Mas conta que vai participar de uma oficina de intelectuais israelenses e palestinos. Ele diz que na programação há várias oficinas com esse tema, com um componente comum de hostilidade a Israel. "O pluralismo exige pessoas dispostas a ouvir os opostos e dispostas a serem persuadidas e não isso", critica.

O conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos Jair Krischke considera o fórum uma feira ideológica que não leva a algo conseqüente. "Vem gente do primeiro mundo ver o exótico."

Para seus promotores, os críticos desconhecem o fórum e sua metodologia. Gustavo Codas, do comitê organizador, diz que podem participar todos os que aceitarem a carta de princípios, que rejeita o neoliberalismo, a guerra e a violência. "Bin Laden não seria aceito aqui e George Bush também não".

A escolha dos temas, salienta, não é feita pelos organizadores. "A causa palestina aparece tanto porque é motivo de preocupação de muita gente. Mas é certo que todos defendem uma saída pacífica e negociada."

O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio, José Alceu Marconato, considera as hostilidades ao fórum "um ranço ideológico de pessoas inconformadas" e propõe vê-lo como um negócio. "O fluxo de visitantes traz renda a hotéis, táxis, lojas e restaurantes." O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares calcula que, com as reservas esgotadas, vai faturar R$ 20 milhões.