Título: Economia alternativa será o grande destaque do Fórum
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Nacional, p. A5

Além de debater alternativas ao neoliberalismo, a 5.ª edição do Fórum Social Mundial quer provar que outra economia é possível. Na área do evento vão circular prioritariamente alimentos cultivados sem agrotóxicos, de assentamentos da reforma agrária, e equipamentos fabricados por cooperativas de trabalhadores a partir de patentes abertas. Quando não houver disponibilidade de produtos, a preferência será dada a pequenos fornecedores locais. A opção pelos alternativos se tornou viável com a troca de endereço do fórum. Em vez do aluguel da estrutura da PUC, as atividades estarão espalhadas em barracas construídas nos 400 hectares do Território Social Mundial, que vai do cais do porto, no centro, ao Ginásio Gigantinho, na zona sul.

A intenção é mostrar aos participantes as vantagens da produção ecológica, solidária, cooperativada e com tecnologia aberta. "Queremos disseminar a idéia de que o centro da vida é o homem e não a economia", explica Luiz Augusto Farofa da Silva, do Grupo de Trabalho de Economia Solidária.

Os 120 mil participantes esperados não encontrarão refrigerantes, cervejas ou salgadinhos de marcas multinacionais, a menos que saiam do "território". Quem quiser participar do sistema de trocas pode usar o txai, a moeda alternativa do fórum.

Para obtê-la, deve entregar alguma mercadoria - mantimentos, roupas, livros, peças de artesanato. Ao final, se não tiver usado as cédulas para comprar, terá de levá-las como lembrança, porque não serão trocadas por reais.

A participação de cooperativas e empresas autogestionárias começou com a construção da infra-estrutura do fórum. Os assentamentos entram agora, com os alimentos que serão vendidos em 2 feiras e 3 praças de alimentação. E há as bioconstruções: 3 auditórios para 50 pessoas e 5 para 100, feitos de estruturas de eucalipto, paredes de palha de arroz e trigo e cobertura de grama sobre camada de terra sustentada por chapas de madeira, num trabalho que reuniu soldados do Exército e militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST).

REDE

A tecnologia que deu mais trabalho foi o equipamento de transmissão e recepção do sistema de tradução. Técnicos e engenheiros voluntários fizeram a rede Nomad para criar softwares e hardwares, incluindo cabines, com mixer, microfones e transmissores, e receptores de rádio. Toda a tecnologia é aberta e pode ser copiada, avisa o franco-argentino Gerardo Barrero, um coordenador da Nomad.

Para operar os equipamentos e dar assistência técnica aos tradutores no fórum foram treinadas 500 pessoas de movimentos populares. "Depois elas vão multiplicar seus conhecimentos nas comunidades onde vivem", prevê Barrero. O equipamento também será repassado a organizações voltadas à comunicação popular.

Barrero conta que a contratação de tradutores e equipamento equivalia a 30% do orçamento do fórum nas edições anteriores. Este ano, avalia, pode chegar ao mesmo valor, R$ 4 milhões, mas há vantagens. "Antes o dinheiro ia embora. Agora tanto o conhecimento quanto os rádios revertem para o movimento social."