Título: 'Ao invés de reforma, um plano estratégico'
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Nacional, p. A10

O ponto mais positivo do texto é trazer à discussão a questão do ensino superior, "mas na estratégia ele deixa a desejar". É assim que o reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, da Unicamp - hoje um centro de excelência com quase 30 mil alunos - define o anteprojeto da reforma universitária. O texto, diz ele, "é excessivamente voltado para universidades, e em especial para as federais". Um objetivo pequeno, já que metade das vagas do ensino superior estão fora das federais. O documento também confunde ensino superior com ensino universitário. "Assim, as faculdades tecnológicas e as isoladas ficaram de fora." Não deveria ser assim, diz o reitor. "O governo precisaria primeiro ter um projeto estratégico de País que pensasse, por exemplo: hoje temos 11% dos jovens no ensino superior. Vamos levar esse numero para 60% em 15 anos." Ou, ainda, segundo ele: "Vamos montar um sistema de avaliação sério no ensino médio e criar condições para que 20% dos melhores alunos estejam, em 10 anos, no grupo A, de faculdades de elite do País."

Definidas as metas, seria preciso definir os custos, saber de onde tirar o dinheiro para viabilizar, em duas ou três décadas, esse grande corpo de técnicos de primeiríssima linha. Só depois disso - prossegue Brito Cruz - se poderia preparar um documento sobre como produzir esse ensino. "E não imagino um projeto nem de reforma, pois não se está reformando nada, nem universitário, que é um termo fechado. Imagino, sim, um Plano Estratégico de Desenvolvimento do Ensino Superior."

Os autores do documento, diz ele, não foram atrás de um modelo moderno de instituição, dedicado a formar uma massa crítica de professores e pesquisadores realmente habilitados, capazes de pensar o Brasil para um futuro altamente competitivo. "Comparemos com os Estados Unidos, o país mais adiantado. Metade dos jovens americanos vão a escolas para cursos de dois anos, os community colleges", exemplifica. O tema mal aparece no anteprojeto.

O reitor lembra que, recentemente, um grupo da China fez uma pesquisa e listou as 500 "melhores universidades" do mundo. Aparecem apenas quatro brasileiras: as três de São Paulo - USP, Unicamp e Unesp - e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Se esses centros são mesmo bons, prossegue ele, seria importante criar no anteprojeto uma articulação entre as universidades estaduais, federais e até municipais, para que a qualidade dessas quatro fosse útil às demais.

O MEC também poderia levar em conta experiências feitas, por exemplo, pela Unicamp, que pôs em prática uma forma de cota, ao definir que, entre dois alunos de igual nota, um vindo do ensino publico e outro do privado, escolhe-se o primeiro. Isso, sem a amarração, como propõe o texto, de 50% de vagas para o publico, que tira a liberdade crítica da universidade.