Título: BNDES começa ano com recorde em pedidos de créditos: R$ 59,6 bilhões
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Economia, p. B1

O surpreendente desempenho da economia no ano passado - que até o terceiro trimestre acumulou alta de 5,3% - desencalhou projetos que aguardavam melhor definição macroeconômica, afirma o vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca. Com isso, depois de fechar o exercício de 2004 com sobra de caixa de R$ 7,3 bilhões, o banco inicia o ano com demanda recorde por recursos. Somente os projetos de infra-estrutura e da indústria somam R$ 46,9 bilhões, ou 78% do orçamento deste ano, de R$ 60 bilhões. Além desses pedidos, que começaram a chegar ao banco no segundo semestre do ano passado, está sendo identificado um crescente interesse no País de empresas estrangeiras de logística e infra-estrutura. Na quarta-feira, Fiocca teve uma longa reunião com um grupo de armadores noruegueses que pretende construir um novo porto na Região Sul, associado a uma empresa nacional. "Por enquanto, não posso revelar nomes", esquivou-se.

"A perspectiva de crescimento continuado, depois de tantos anos de instabilidade no ritmo de crescimento, favorece o desengavetamento de projetos e estimula o surgimento de uma safra de investimentos que aguardavam cenário mais favorável", analisa Fiocca. Segundo ele, já estão contabilizados R$ 75 bilhões em enquadramentos, como é classificado, no jargão do banco, o primeiro estágio de análise de um empréstimo.

Boa parte desse dinheiro deve ser desembolsada este ano, além de parte de outros R$ 37,9 bilhões, de financiamentos aprovados no fim de 2004, que serão liberados nos próximos meses, de forma parcelada.

Os pedidos de financiamento para a indústria em análise somam R$ 25,3 bilhões. Essa demanda, se concretizada, representará mais 60,5% em relação ao que foi liberado para o setor em 2004 (R$ 15,7 bilhões). Os pedidos para obras de infra-estrutura são de R$ 21,6 bilhões (42,4% acima dos R$ 15,1 bilhões gastos no ano passado); a agroindústria pede R$ 9,2 bilhões (32,9% mais), mas é dos setores de comércio e de serviços que virá o maior aumento em relação a 2004, embora as cifras não tenham o mesmo peso: R$ 3,5 bilhões este ano, ante R$ 1,6% bilhão em 2004, aumento de 111,4%. No total, os pedidos somam R$ 59,6 bilhões.

De acordo com Fiocca, o crescimento da economia em 5% ao ano leva tudo para outro patamar. Para atuar em sintonia com as mudanças, o banco passará a usar uma nova metodologia, calcada não na escolha prévia de setores específicos, mas na mudança de peso verificada na formação do PIB. "Na hora de traduzir em termos concretos, é claro que os maiores projetos vão se apresentar em logística, para reduzir gargalos de crescimento, e em insumos. Mas isso também vai resultar em projetos em várias áreas, até em varejo, comércio, turismo."