Título: Mais que organizador, um exímio administrador de egos
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Economia, p. B5

O escritório de Klaus Schwab, em Cologny, tem uma vista dramática do Lago Genebra com as montanhas cobertas de neve atrás. É um cenário adequado, pois os altos e baixos do trabalho de Schwab nestes dias têm sido mais vertiginosos do que uma cordilheira. Numa manhã recente, ele recebeu um telefonema do embaixador indonésio na Suíça, informando que seu presidente não iria à conferência deste mês do Fórum Econômico Mundial, em Davos, porque não queria deixar seu país, abalado pelo tsunami. "É uma pena", resmungou Schwab em francês. Após desejar sucesso aos trabalhos de resgate, ele desligou e voltou-se, calado, para a agenda de compromissos.

Se Schwab estava desapontado por perder um oportuno convidado para sua conferência, não demonstrava. Afinal, ele acabara de confirmar outro grande nome, Viktor A. Yushchenko, o presidente recém-eleito da Ucrânia, a quem convencera num jantar particular em Genebra dois dias antes.

Depois disso, o desafio mais delicado de Schwab seria administrar os egos das pessoas prontas para participar. Seus assessores passaram parte da semana negociando com Bill Gates, que queria maior exposição na conferência, e Bill Clinton, que queria um horário melhor para discursar.

"As coisas parecem mais desorganizadas do que estão", disse Schwab a um repórter que acompanhou sua equipe por alguns dias. "Trabalhamos agora em umas dez sessões que não foram detalhadas. É claro que são as mais importantes e sensíveis."

A cada ano, no fim de janeiro, Schwab, ex-professor de Administração nascido na Alemanha, dá a definitiva festa VIP, reunindo presidentes de companhias, líderes políticos, ativistas e até estrelas do rock para uma mistura de discursos ambiciosos e encontros de bastidores numa estação de esqui alpina. A mistura de negócios e política é rara, e por mais de 34 anos transformou Davos num coquetel inebriante para quem pode pagar - ou consegue um convite de graça. Schwab, 65 anos, construiu um próspero negócio em torno da conferência, realizada na periferia de Genebra.

Apesar de todas as atividades adicionais, o Fórum depende do barulho gerado por Davos. Duas semanas antes da abertura, dia 26, o planejamento atingiu um grau febril. A programação da conferência, elaborada por quase um ano, está sendo reformulada até o último minuto, enquanto os organizadores tentam obter confirmações de presidentes, primeiros-ministros e outros notáveis. Gerhard Schroeder virá e Tony Blair é presença provável, mas Jacques Chirac não deve aparecer. Gates está definido, assim como Bono, do U2, mas Clinton não confirmou.

"O pessoal de Clinton não está entusiasmado com sua aparição marcada para domingo", disse Stephanie Janet, ao apresentar o relatório diário sobre a situação. Assessores de Gates, que é co-presidente da conferência, telefonaram para pedir que ele aparecesse com o ex-presidente americano.

"Já programei duas grandes sessões para Gates, e disse a eles: 'É isso'", informou o diretor de programação, Ged Davis, cansado. "Ele parece querer mais e mais."