Título: Com recuperação de preços, produtores voltam a investir
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, Economia, p. B7

Depois de conhecer o fundo do poço em 2001 e 2002, o setor cafeeiro - um dos principais símbolos da agricultura brasileira - vive um momento de otimismo com a recuperação dos preços no mercado internacional. Na sexta-feira, a saca de café (60 quilos) na Bolsa de Nova York estava cotada a US$ 104,25 para contratos com vencimento em maio - o dobro do preço médio de 2002, de US$ 48,61, e de 2003, de US$ 59,52. Trata-se do melhor momento da cafeicultura desde janeiro de 2000, quando o produto chegou a ser comercializado a US$ 121,70 a saca. A crise do setor começou a ser anunciada antes mesmo do início de 2001 e se agravou em 2002. Os preços baixos reduziram os investimentos e, conseqüentemente, diminuíram a produtividade das fazendas. A safra minguou e as receitas diminuíram.

Mas agora o panorama é outro. Como o período do café é bianual - safras grandes intercaladas com produções menores -, a oferta tende a cair neste ano e a elevar os preços. No Brasil, a colheita deve terminar 2005 com 32 milhões de sacas, prevê o diretor do Departamento de Café do Ministério da Agricultura, Vilmondes Olegário da Silva. Em 2004, a safra foi de 38 milhões de sacas.

Ou seja, só o Brasil será responsável por um recuo de 6 milhões de sacas no mercado mundial, que deve ficar abaixo de 112 milhões de sacas. De outro lado, o consumo continua crescente, à taxa média de 2% ao ano. A previsão é de que, em 2005, 114 milhões de sacas de café serão consumidas em todo o mundo - 2 milhões a mais que a oferta.

Para completar o quadro, o estoque mundial está mais baixo, em torno de 40 milhões de sacas. A união de todos esses fatores - redução da oferta internacional, queda dos excedentes armazenados e aumento no consumo - será suficiente para manter os preços elevados por um bom tempo, no mínimo mais dois anos, segundo o Ministério da Agricultura.

A virada do setor teve início em 2004, com o café comercializado à média de US$ 75,89 a saca. No ano, a alta foi de 51% em relação ao mesmo período de 2003, enquanto a soja - um dos produtos mais importantes da agricultura brasileira - caiu 30%.

INVESTIMENTOS

O atual preço é um reflexo da retração da oferta mundial ocasionada pela redução de investimentos. Com o avanço dos preços, a tendência é que os investimentos sejam elevados e aumentem a produtividade. Para 2006, a estimativa é de que a colheita retome níveis históricos. Além de ser um ano de colheita boa, os recursos injetados agora começarão a dar frutos.

Segundo o diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga, o investimento em tratos culturais por ano exige cerca de R$ 3 mil por hectare, o que daria um total de R$ 6 bilhões. Nos últimos anos, no entanto, com as sucessivas desvalorizações do grão, muitos deixaram de investir e outros abandonaram a cultura.

Quando o produto está em alta, a situação se inverte e o setor é invadido por novos produtores. Exemplo disso é o aumento da procura por mudas de café no mercado. Na produtora de mudas Kamda, o volume de pedidos para este ano já é semelhante ao do ano passado: cerca de 300 mil mudas. Todas para pequenos produtores do Oeste Paulista, afirma o gerente da empresa, Vagner Amado Belo de Oliveira. "Há cinco anos, o setor não vivia fase tão boa", diz.

Mas, entre os agricultores mais tradicionais, a palavra de ordem é cautela, garante o superintendente comercial da Cooperativa de Guaxupé (Coxupé), Lúcio Dias. "Esses produtores estão melhorando as lavouras para elevar a produtividade. Além disso, eles precisam se capitalizar e pagar suas dívidas."