Título: Marcha pela Paz reúne 100 mil na abertura do Fórum Social
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Nacional, p. A

O grito de guerra do mundo dos descontentes voltou a ecoar ontem nas ruas de Porto Alegre, durante a Marcha pela Paz. Foi a abertura oficial da quinta edição do Fórum Social Mundial, que, segundo a Brigada Militar e os organizadores, reuniu cerca de 100 mil pessoas, provenientes de todos os continentes e engajadas em todos tipos de movimentos contrários à atual ordem mundial. "É o maior encontro antiimperialista do mundo", gritou ao microfone, logo na largada da marcha, a jovem Ana Maria Prestes, do comitê organizador. Ao seu redor, grupos faziam soar tambores, agitavam bandeiras, dançavam.

Uma brigada sul-coreana gritava slogans ininteligíveis. Podia-se saber que eram contra o presidente americano, George W. Bush, pelos cartazes em inglês contra a invasão do Iraque.

Mais adiante, uma brigada muito mais colorida e barulhenta atacava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Era a turma do PSOL - partido que surgiu de uma dissidência do PT e é encabeçado pela senadora Heloísa Helena.

Embora pequeno, era um dos grupos mais visíveis na marcha. Para atrair a atenção dos estrangeiros, a deputada Luciana Genro (RS), que já foi professora de inglês em Porto Alegre, chegou a discursar na língua de Bush. E gritou contra a política econômica de Antônio Palocci.

No meio da multidão, discreto, sorridente e sem nenhum segurança visível à mostra, ia o ex-primeiro-ministro de Portugal, o socialista Antonio Gutérrez. Ele teve de parar várias vezes a pedido de simpatizantes e posar para fotos.

Um pouco mais adiante, o presidente do PT, José Genoino, também sorria e cumprimentava admiradores. Bem atrás dele, feito uma sombra, seguia um segurança de óculos escuros. Talvez para evitar incidentes como o de 2003, na terceira edição do FSM. Naquele ano, Genoino foi atingido no rosto por uma torta de chantilly com morango.

LARGADA

A marcha saiu por volta 17h30, do Largo Glênio Peres, no centro da capital gaúcha, e seguiu pela Avenida Borges de Medeiros, ocupando uma área de quase três quilômetros. Quando o grupo de crianças que seguia na frente chegou ao anfiteatro Pôr do Sol, para o show musical de abertura do FSM, ainda havia pessoas saindo do largo.

Uma das meninas escolhidas para segurar a faixa de abertura era Anelise Lima, de 14 anos. Filha de uma cozinheira e de um porteiro desempregado, ela disse que não sabia direito o que toda aquela gente atrás dela ia fazer no fórum. "Só sei que querem um mundo melhor. Isso é bom, não é?"

O dominicano Frei Betto, ex-assessor especial do presidente Lula, parecia feliz diante da quantidade de matizes ideológicos. "É uma beleza de feira ideológica", dizia. Parecia uma resposta ao seu antigo chefe, que no ano passado criticou o fórum justamente por ser parecido a uma feira ideológica. "Quem diz que não tem ideologia acaba acreditando na ideologia neoliberal."

Nessa feira, alguns temas eram recorrentes. Os ataques a Bush e à política econômica liberal eram os líderes, seguidos por apelos pela paz, contra qualquer tipo de discriminação, pela tolerância, pelo fim das desigualdades. No meio de um grupo de judeus, um dos integrantes da passeata carregava duas bandeiras: uma da Palestina e outra de Israel.