Título: 'Dinheiro para educação não é gasto, é investimento', diz Lula
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em São Paulo, que o Programa Universidade para Todos (ProUni) é uma prova de que é possível dar respostas rápidas e eficientes aos problemas crônicos do País e de que não há problema sem solução. Falando para cerca de 5 mil jovens, de um total de 107 mil alunos selecionados pelo projeto, o presidente pediu aos estudantes que não desperdicem a oportunidade de cursar o ensino superior. "Não joguem fora essa oportunidade. Possivelmente vocês tenham problemas e, se tiverem, procurem alguém para resolver. Não tem problema que não tenha solução se a gente enfrentar", discursou. "Se a bolsa 100% ainda for cara para vocês, vamos tentar encontrar um jeito e vamos fazer com que ir para a universidade não seja um castigo, mas uma coisa prazerosa", afirmou. Em discurso, ora de improviso ora lido, Lula ressaltou que o País não pode considerar que investimento em educação é gasto. "O Brasil, quando faz um investimento desse (em educação) não pode, em nenhum momento, aceitar a tese de que estamos gastando dinheiro", disse. "Todo o dinheiro que o Estado coloca na educação não pode ser tratado como gasto, mas como investimento que trará retorno", comentou, sendo interrompido por entusiasmados aplausos.

Lula lembrou que todo o processo que envolveu o ProUni foi realizado em quatro meses, da edição da Medida Provisória, número 213/2004, à sanção da lei. O programa oferece bolsas de estudo, parciais e integrais, para alunos carentes em instituições privadas de ensino superior. Mais de 530 mil estudantes se inscreveram na primeira edição do ProUni, de um total de 112 mil vagas disponibilizadas pelo Ministério da Educação. Anteontem, o MEC informou que há 5 mil vagas ociosas, referentes a cursos que não interessavam aos candidatos.

COMEÇO

Ao lado do ministro da Educação, Tarso Genro, e do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), Lula prometeu que o ProUni é "apenas o começo de uma grande revolução" que a educação brasileira precisa ter. "Até porque não acredito que país nenhum do mundo consiga ser desenvolvido se não acreditar na formação da sua gente a partir do ensino fundamental."

Lula disse também que vai continuar trabalhando para que toda a população tenha acesso ao ensino gratuito. "Durante muitos anos tivemos o discurso histórico, que nós defendíamos de forma categórica, de ensino público e gratuito para todos. Esse é um discurso que nós vamos continuar defendendo porque é um sonho, uma utopia que nós podemos construir."

O presidente afirmou esperar que o Brasil possa se transformar em exportador de conhecimento e tecnologia. "Nós um dia poderemos estar reunidos não apenas para discutir novo recorde na balança comercial. Quem sabe não estará longe o dia em que o Brasil possa se transformar em grande exportador de conhecimento e tecnologia", disse.

Lula falou aos estudantes selecionados pelo programa que cada um deles carregará a capacidade e a responsabilidade de fazer com que as mudanças em curso no País continuem a ocorrer nos próximos anos. Ao lembrar que não tem curso superior, Lula disse que o ProUni garantiu também a ele próprio a possibilidade de ingressar na universidade. "Quando deixar o governo quem sabe eu não entre no ProUni para fazer a faculdade que não fiz antes de me tornar presidente da República", comentou, de novo interrompido por aplausos.

O ministro da Educação negou que a política de cotas implantada no governo Lula seja populista. "Ela é republicana, inclusiva e democrática", defendeu Tarso.