Título: Amaral recusa Tóquio e embaralha reforma
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Nacional, p. A8

A ciranda de embaixadores do Brasil no exterior imaginada para meados deste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo chanceler Celso Amorim caiu com a resposta negativa de um veterano do governo Fernando Henrique Cardoso. Diplomata de carreira, o embaixador do Brasil na França, Sérgio Amaral, respondeu ao seu superior que, por razões pessoais, não aceitará a chefia da representação brasileira no Japão. A decisão deverá reforçar a aposta do governo na indicação de embaixadores "juniores" - ministros de primeira classe que nunca assumiram a chefia de postos no exterior - até mesmo para posições de relevância, a exemplo da nomeação em 2004 do embaixador Mauro Vieira, ex-chefe de gabinete de Amorim, para a Argentina. Para o Japão, que será visitado ainda neste semestre pelo presidente Lula, um dos nomes cotados é o do embaixador Mário Vilalva, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, que vem se destacando desde o período FHC como um dos mais tarimbados nessa área. Em princípio, a resposta negativa de Amaral deverá gerar um problema adicional para Lula e Amorim, o de buscar uma segunda opção de posto de primeira linha para o veterano, que foi porta-voz do Planalto e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior durante a gestão do PSDB e um dos críticos viscerais da candidatura de Lula à Presidência.

Esse problema foi reforçado pela decisão de Lula e Amorim de antecipar a saída de Amaral de Paris, prevista inicialmente para dezembro deste ano no acerto fechado com FHC no final de 2002. Fontes do Itamaraty, entretanto, explicaram que o embaixador deverá diminuir esse incômodo a seus superiores. Tenderia a se aposentar da carreira diplomática, instalar-se em São Paulo e dedicar-se à consultoria empresarial, a exemplo de Rubens Barbosa, que encerrou sua vida profissional no Itamaraty no ano passado ao deixar a embaixada do Brasil nos EUA.

MALAS PRONTAS

Por enquanto, o restante do esquema montado por Lula e Amorim deverá ser preservado. Outros cinco embaixadores arrumarão as malas - quatro dos quais nomeados na era FHC - e seguirão para novos postos. Para a França, o Itamaraty enviará sua subsecretária-geral de Assuntos Políticos, embaixadora Vera Pedrosa, que já serviu em Paris como adida cultural e ministra-conselheira na missão do Brasil na Unesco. O atual embaixador no Japão, Ivan Canabrava, que exerceu a função de Pedrosa no governo FHC, deverá assumir a chefia da representação brasileira na Alemanha. Trata-se do principal posto bilateral do Brasil na Europa na atualidade.

O embaixador do Brasil em Berlim, José Artur Denot Medeiros, deverá retornar ao Itamaraty, em Brasília, para cumprir com a regra que impede a qualquer embaixador ultrapassar dez anos de serviço no exterior.

Embaixador do Brasil na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), em Montevidéu, no governo FHC, Denot Medeiros deverá escolher entre as subsecretarias-gerais de Assuntos Políticos e de Assuntos Econômicos.

O titular da Subsecretaria-Geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos, embaixador Clodoaldo Hugueney, deverá ser indicado para a chefia da missão do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) e nos demais organismos sediados em Genebra, na Suíça. Posto-chave da diplomacia comercial do País, por conta da Rodada Doha, essa missão estará vaga depois da eleição para a direção-geral da OMC, em maio. O atual chefe, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, concorre exatamente neste páreo. No esquema previsto, se ele vencer, continuará em Genebra, como diretor da OMC. A embaixada em Roma está reservada para ele, em caso de derrota, já que Itamar Franco deixará o posto.