Título: FHC vê gastança no governo e sugere a Lula que leia mais
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Nacional, p. A10

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) acusou ontem o governo federal de promover uma "gastança" e prometer demais. Anunciava, assim, uma fase de oposição mais acirrada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decidida ontem, em São Paulo, durante reunião da executiva nacional do partido. "O PSDB tem sido compreensivo, esperando tanta promessa, tanta bazófia que ia fazer e acontecer", disse. "Como as coisas estão piorando, tem de mostrar com mais clareza ao povo por que não tem emprego, a renda não aumenta, que isso não é por acaso", completou.

Fernando Henrique recomendou ainda a Lula ler "um pouquinho sobre história do Brasil" e ter mais "prudência no que diz". "Vejo dados que me preocupam: o aumento do gasto público, a gastança que continua. O que acontece? Tem de segurar tudo com a política fiscal", destacou o ex-presidente. O PSDB tem de mostrar o que está errado e "avançar", insistiu. "Não tem de estar conciliando aqui e ali."

Na terça-feira, Lula acusou os antecessores de não terem investido na infra-estrutura do País. Em resposta, FHC recomendou a Lula que verifique os dados que usa. "Ele deveria ter um pouquinho mais de prudência no que diz, senão alguém pode cobrar incoerência. Não vou fazer isso", afirmou. "Estou torcendo para que o Brasil dê certo."

O ex-presidente ironizou outra afirmação de Lula, que chamou de "amigos" os integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), durante solenidade na Bahia: "Cada um escolhe os amigos que prefere. Agora, você tem que escolher. Escolheu, está bem, é dele."

IMAGEM

A principal estratégia do PSDB no confronto com a administração petista, já preparando o caminho do partido para a sucessão presidencial em 2006, será "colar" a imagem de Lula a seu governo. "No meu tempo, as críticas eram sempre para mim", ressaltou Fernando Henrique, durante a reunião. Ele deverá participar mais das atividades do partido nos Estados, unificando e calibrando o discurso oposicionista.

O PSDB também saiu ao ataque contra a Medida Provisória 232, que ampliou a cobrança de PIS/Cofins para o setor de serviços. E, apesar de apoiar o princípio de que a maior bancada eleja o presidente da Câmara, a legenda não dará tão cedo aval para o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).

"Cabe ao PT conseguir unidade de posições", disse o presidente do partido em exercício, o senador Eduardo Azeredo (MG), referindo-se à candidatura avulsa de Virgílio Guimarães (PT-MG). Azeredo assumiu a presidência no lugar do prefeito José Serra, licenciado. Em novembro, o partido escolhe novo presidente.

Presentes à reunião, os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG) reforçaram as críticas ao PT. Segundo Aécio, entre 2003 e 2004 o aumento de gastos no governo federal chegou a 25%. Tanto Aécio quanto Alckmin evitaram falar de suas pretensões em 2006, mas Alckmin - hoje principal nome à sucessão de Lula - admitiu que viajará mais este ano.