Título: Inspirada no País, OMS avança na luta contra a aids
Autor: Ligia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Vida &, p. A12

Baseada na experiência brasileira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anuncia que já conseguiu que 700 mil pessoas com aids nos países em desenvolvimento recebam tratamento gratuito. O número é 75% maior do que em julho e representa a primeira fase do projeto da agência da ONU para atender 3 milhões de aidéticos até o fim do ano. Apesar dos avanços, a OMS alerta que terá de ser feito maior esforço para que a meta seja atingida, porque há 6 milhões de pessoas que precisam de assistência nos países menos desenvolvidos. Na avaliação da agência, outros US$ 2 bilhões serão necessários neste ano para alcançar a meta e os demais 2,3 milhões de pessoas serem beneficiados.

O projeto foi iniciado em 2003 com a entrada do novo diretor da OMS, Jong-wook Lee, que levou para Genebra o então coordenador do programa brasileiro de combate à aids, Paulo Teixeira. O brasileiro, que já deixou a OMS, foi o responsável por montar o programa, que agora começa a dar os primeiros resultados. Na época, ele dizia que o segredo para conseguir que os medicamentos fossem distribuídos nas regiões mais pobres do mundo seria a colaboração entre governos, organizações internacionais e empresas.

Para a OMS, a experiência do Brasil "mostrou que países de renda média podem dar terapia por meio de seus setores públicos e atingir o acesso universal do tratamento para a população com resultados excelentes". Segundo a entidade, o Brasil é a "inspiração" do atual projeto ao demonstrar que, com vontade política, se pode atingir tal meta. Para a OMS, o País tem o programa de tratamento "mais avançado" entre as economias em desenvolvimento e cerca de cem mil mortes foram evitadas com o "uso estratégico dos recursos".

A agência pede que outros países sigam o exemplo do Brasil e lembra que, em seis meses, conseguiu dobrar o número de pessoas em tratamento na África, passando de 150 mil para 310 mil. Mas, como o tratamento custa US$ 300 por pessoa por ano, admite que apenas 12% dos 6 milhões de aidéticos no mundo em desenvolvimento têm acesso a ele. Na África, só 8% da população é beneficiada. Já na América Latina, há 275 mil aidéticos recebendo o tratamento gratuito - 65% dos que dependem de ajuda do governo. Desses, 154 mil estão no Brasil.

Para a OMS, o programa precisa de maior compromisso político e financeiro. Um fundo global já foi criado, mas não consegue arrecadar recursos suficientes.