Título: Preces lembram 1 mês da tragédia
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Internacional, p. A18

Um mês após as ondas gigantes provocadas por um terremoto de 9 graus devastarem as costas de vários países no Oceano Índico, milhares de pessoas lembraram ontem nas áreas afetadas os mais de 297 mil mortos na catástrofe. Na turística Ilha de Phuket, na Tailândia, foi inaugurado, na presença de monges budistas, o Muro da Recordação em memória das vítimas. Na Tailândia morreram 5.374 pessoas, entre elas centenas de turistas.

No Sri Lanka, onde 38.195 pessoas morreram, a população se reuniu em templos, igrejas e junto ao mar em emotivas cerimônias para rezar e acender velas. "Em memória daquele dia, pelos desaparecidos e mortos em todos os países, rezamos para que o tsunami nunca retorne", disse um monge budista.

Na Indonésia, o país mais afetado, não houve nenhum evento religioso ou do governo marcando a data. As crianças do norte da ilha indonésia de Sumatra voltaram às aulas ontem e lembraram com lágrimas e orações os colegas desaparecidos. Professores e alunos se abraçaram e choraram durante a reabertura das danificadas escolas da Província de Aceh, duramente afetada pelo tsunami.

Alqausar, um menino de 6 anos, chegou à escola com a mãe, carregando sua mochila dos Power Rangers e esperando encontrar seu melhor amigo. "Mas acho que ele não virá", conformou-se.

Apenas 6 dos 43 alunos de sua classe voltaram. Dos 600 alunos da escola, havia apenas 260. Os outros foram considerados mortos. Segundo estimativas, mais de 1.700 professores morreram e entre 700 e 1.100 escolas foram destruídas. De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde da Indonésia, mais de 228 mil pessoas morreram na região ou estão desaparecidas.

Na Índia, onde mais de 10.700 pessoas morreram, a polícia usou megafones e as autoridades fizeram um comunicado em rádio e TV para acabar com os rumores de que um novo tsunami poderia afetar o país.

Por trás das cerimônias para lembrar os mortos havia um profundo senso de frustração entre os sobreviventes diante dos lentos esforços de recuperação.

"Ainda não recebemos nenhuma assistência", lia-se em uma faixa colocada entre barracas plásticas que abrigam sobreviventes do tsunami na cidade de Galle, sul do Sri Lanka.

O governo cingalês prometeu reconstruir as casas destruídas pelo tsunami, mas proibiu construções nas proximidades da praia. A decisão causou preocupação entre os pescadores. Eles dizem que precisam morar perto do mar por causa de seu trabalho.

Ainda ontem, funcionários do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Sri Lanka denunciaram que os rebeldes tigres tâmeis, que há 19 anos lutam por um Estado independente, recrutaram pelo menos 40 crianças órfãs desde o tsunami de dezembro. Os rebeldes assinaram um cessar-fogo com o governo em fevereiro de 2002, mas grupos de defesa dos direitos humanos dizem que os tigres tâmeis recrutaram mais de 3.500 crianças desde então.

Uma delegação do governo da Indonésia partiu ontem para a Finlândia onde se reunirá com representantes do separatista Movimento para a Libertação de Aceh (GAM). Será a primeira reunião entre o governo e os separatistas em dois anos.

O chanceler indonésio, Hassan Wirayuda, disse que seu governo está disposto a negociar com o GAM, mas somente se o grupo abandonar a luta armada e renunciar à independência de Aceh, um antigo sultanato rico em petróleo e gás.