Título: Ata do Copom sai hoje e explica decisão
Autor: Sheila D Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Economia, p. B6

O Banco Central (BC) divulga hoje a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do dia 19, que elevou a taxa de juros pela quinta vez consecutiva e provocou um "tsunami" nos bastidores do governo, segundo descreveu um assessor. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou frustrado por começar 2005, escolhido para ser "o ano dos resultados", pisando no freio da economia. A turma do "fogo amigo", que defende menos austeridade na política econômica, voltou à carga. No entanto, Lula foi mais uma vez convencido de que o risco do descontrole inflacionário permanece vivo. Daí porque o BC optou por elevar os juros mais uma vez, de 17,75% para 18,25%. Ontem à tarde, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tentava encontrar espaço em sua agenda de hoje para conceder uma entrevista coletiva e explicar, mais uma vez, as causas da decisão do Copom. Tentará, dessa forma, pontuar as explicações que constarão da ata, esperadas com ansiedade pelos analistas econômicos.

De acordo com informações da área técnica, a ata deverá enfatizar, mais uma vez, que há incertezas com relação ao nível de atividade e suas repercussões sobre a inflação. Em outras palavras: avalia-se que a economia está crescendo num ritmo mais forte do que a capacidade instalada permite. O nível de investimentos ainda é insuficiente para dar sustentação a esse processo. Quando ocorre esse descasamento, as empresas aproveitam para remarcar preços e recompor margens de lucro, o que provoca mais inflação.

Essa leitura foi o que motivou o convite de Lula ao presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, para discutir a política monetária, na semana passada. Também estavam na reunião o ministro Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Há preocupação, por um lado, com o efeito das remarcações sobre a inflação e os juros. Por outro, a elevação dos juros deverá desacelerar os investimentos, alimentando um círculo vicioso.

Monteiro defende um diálogo permanente entre os dois lados, como forma de romper esse mecanismo. A busca da parceria com o empresariado para romper o dilema de escolher entre inflação e crescimento é uma idéia que une paloccistas e a turma do fogo amigo. "Precisamos sair dessa lenga-lenga", disse na semana passada um integrante da ala gastadora.