Título: No BC, procura-se um operador
Autor: Sheila D Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Economia, p. B6

Ao contrário do que defendem os críticos da política econômica dentro do próprio governo, as substituições na diretoria do Banco Central que estão sendo conduzidas pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deverão reafirmar o modelo econômico em vigor. Uma forma de fazer isso deverá ser a transferência de Rodrigo Azevedo, diretor de Política Monetária, para a diretoria de Política Econômica, no lugar de Afonso Beviláqua, que deixaria o cargo. Segundo fontes do governo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está buscando um nome no mercado financeiro para comandar as mesas de câmbio e juros, e a idéia é encontrar alguém com o mesmo perfil dos antecessores de Azevedo - Luiz Augusto Candiota e Luiz Fernando Figueiredo, este último, diretor no governo passado. Ambos tinham uma formação profissional mais prática do que acadêmica.

Azevedo, apesar de ter saído também do mercado financeiro, lidava mais diretamente com as áreas técnicas de pesquisa e formulação de cenários do que com operações financeiras. Formado pela Universidade de São Paulo e doutor em Economia pela Universidade de Illinois, nos EUA, ele é considerado um macroeconomista ortodoxo, defensor ardoroso do sistema de metas de inflação e integrante do "núcleo duro" do BC, como são chamados os diretores mais próximos a Meirelles. Assim, a troca de Beviláqua por ele não geraria "versões equivocadas", segundo as fontes, já que a diretoria de Política Econômica é a mais importante dentro do BC na formulação das diretrizes a serem perseguidas pela instituição.

Isso também agradaria o diretor de Estudos Especiais, Eduardo Loyo, que divide com Beviláqua essa área mais técnica. As especulações em torno da saída do diretor de Política Econômica gerou até piadinhas no mercado financeiro, que apelidou os dois de "Salsicha e Scooby-Doo", em referência ao desenho animado. "Isso porque eles vivem juntos, gostam de comer e vêem fantasma onde não há", comenta o diretor de um banco, ressaltando as críticas de alguns analistas do mercado em relação às preocupações dos dois diretores com pressões inflacionárias, consideradas excessivas.

A estratégia afastaria os boatos de que as substituições no BC são fruto de pressões internas por alterações nos rumos da política econômica. "Os diretores sairão por vontade pessoal, e não por pressão", afirma uma graduada fonte do governo. Segundo ela, nem o momento da saída está definido ainda, e Palocci está estudando cautelosamente o assunto. "Enquanto isso, eles continuam trabalhando normalmente".

O primeiro da lista para deixar o BC é o diretor de Assuntos Internacionais, Alexandre Schwartsman, que comunicou sua vontade de sair do cargo a Meirelles e Palocci no final do ano passado. No BC, sua saída é vista como uma questão de tempo. Segundo amigos, ele acha que já teria cumprido sua missão e quer aproveitar o bom momento da economia para deixar o cargo sem causar ruídos.

No entanto, outra versão diz que o diretor teria "ficado queimado" na equipe econômica por causa da forma de se comunicar com o mercado, considerada "pouco cautelosa". No final do ano passado, a participação do diretor num encontro com banqueiros e investidores na sede de um banco privado em São Paulo irritou integrantes do governo. Segundo assessores, a palestra de Schwartsman foi considerada inapropriada. Os comentários entre os operadores, na época, foram que as colocações do diretor sinalizaram uma postura excessivamente conservadora do BC em relação ao juro básico, e isso teria estimulado operações por parte dos investidores. Colaborou: Lu Aiko Otta