Título: Candidatos expõem planos na OMC
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2005, Economia, p. B8

A Organização Mundial do Comércio (OMC) deu a largada oficial ontem para as eleições para a direção-geral da entidade, que conta com o pleito do embaixador brasileiro Luís Felipe de Seixas Corrêa. Cada um dos quatro pretendentes ao posto teve uma hora para apresentar seus "planos de governo" e responder perguntas diante dos 148 países que fazem parte da organização. Mas o candidato uruguaio, Carlos Perez del Castillo, garante: o Brasil praticamente continua sem apoios na América Latina para sua candidatura. Em Brasília, membros do governo revelam que até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já entrou na campanha e, nos últimos dias, enviou cartas a chefes de estado de outros países pedindo apoio ao Brasil. "Estou aqui para ganhar", afirma Seixas Corrêa, prometendo garantir que todos os países serão ouvidos na OMC se ele for eleito. Além do brasileiro e do uruguaio, as eleições, que ocorrem em maio, contam com a participação do ex-comissário de Comércio da Europa, Pascal Lamy, e do chanceler das Ilhas Maurício, Jayen Cuttaree. Seixas Corrêa evitou afirmar quais são os países que o apóiam, embora os representantes chineses tenham admitido que deverão optar pela candidatura brasileira. "Estamos apenas no início do processo", disse o embaixador. Lamy também preferiu não dar essa informação. Já Castillo adotou uma tática diferente e foi logo afirmando: "tenho o apoio abrangente da América Latina. Portanto, minha candidatura vai bem além de ser apenas uruguaia".

Em Genebra, diplomatas da Colômbia e de países centro-americanos voltaram a confirmar seu apoio ao uruguaio. "Continuamos com Perez del Castillo", afirmou o embaixador de Santiago na OMC, Alejandro Jara. Nas últimas semanas, o México teria declarado por meio de uma carta seu voto ao uruguaio, segundo Montevidéu. A Costa Rica chegou a questionar Seixas Corrêa como ficaria a unidade do Mercosul diante da existência de dois candidatos à OMC. Segundo fontes em Montevidéu, apenas Cuba e Venezuela não teriam apoiado Castillo na região.

Apesar do suposto apoio da América Latina, Castillo não ficou isento às críticas durante sua apresentação. A Austrália questionou seu desempenho como autor do rascunho do acordo da reunião ministerial de 2003 em Cancún, que acabou fracassando. Essa atuação seria ainda o motivo pelo qual o Brasil não o apoiaria, alegando que o uruguaio não teria considerado os interesses do Mercosul em seu projeto de liberalização agrícola.

Seixas Corrêa, em sua conferência para a imprensa internacional, preferiu se concentrar em seu programa de governo e apontar que lideraria pela persuasão. O brasileiro, assim como os demais candidatos, insiste que sua prioridade será concluir a rodada de negociações de Doha e aponta que trabalhará para que todos os países sejam ouvidos. Só assim o resultado da negociação seria durável. O embaixador ainda deixa claro que espera que os valores defendidos pelo Brasil, como democracia e defesa do sistema multilateral, sejam considerados quando os países avaliem em quem votarão.

Seixas Corrêa ainda defendeu que a OMC continue sendo guiada pela vontade de seus 148 membros, mas acredita que o próximo diretor seja de país em desenvolvimento, já que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) já são comandados por representantes de países ricos. "Isso não tem qualquer conotação de confrontação Norte-Sul, mas seria importante para um equilíbrio no sistema", explicou.

Mas para Lamy, a tese de Seixas Corrêa é "contraditória". Na avaliação do europeu, não se pode defender a manutenção da OMC como uma entidade comandada pelos membros e ao mesmo tempo alegar que o diretor deve vir de um determinado grupo de países. O europeu ainda se esforça em mostrar que, se eleito, não representará apenas os países ricos e que está preocupado com o desenvolvimento. "A abertura comercial é essencial para reduzir a pobreza", afirmou Lamy, que até poucos meses era o representante europeu e resistia às pressões de países como o Brasil para reduzir seus subsídios.