Título: Programa só não chega a 28 cidades no País
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Nacional, p. A4

Maior programa social do governo federal, o Bolsa Família já conseguiu chegar a quase todo o País. Quase. Atualmente, dos 5.568 municípios brasileiros, 28 ainda não tem o programa. Seis deles são em São Paulo. Em uma mistura de falta de organização, desconhecimento e simples dificuldade de entender o programa, as prefeituras não conseguiram fazer o cadastro social das famílias que deveriam direito ao Bolsa Família e deixaram de receber os recursos por todo o ano de 2004. Em comum, os municípios têm o fato de serem pequenos e pobres. Com exceção de Cantagalo (RJ), o maior deles com 19 mil habitantes, e Araçariguama (SP), com 10,6 mil, não passam de 10 mil moradores.

Oliveira de Fátima, no Tocantins, tem apenas 754 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A chegada das bolsas faria diferença nos municípios, reconhecem os próprios prefeitos. Em todas as prefeituras que o Estado conseguiu consultar, a resposta é a mesma: agora estão correndo para tentar recuperar o tempo perdido.

Mateiros, a 340 quilômetros de Palmas (TO), com apenas 1,8 mil moradores, é uma das situações mais complicadas. Desde junho de 2004 o município estava sob intervenção estadual. O antigo prefeito, Antônio Alves Silva, foi afastado depois que o Tribunal de Contas do Estado descobriu desvios no dinheiro da educação.

"O interventor não teve tempo de cuidar dessas coisas, mas agora nós vamos fazer", conta a atual primeira-dama, Maria Helena Ribeiro da Silva, que estava lá "tomando conta das coisas" enquanto seu marido, o prefeito eleito Gumercindo Oliveira da Silva, resolvia problemas do município na capital. "Isso interessa para a gente sim. Como interessa. Agora estamos vendo o que é preciso fazer. Precisamos muito desse dinheiro no município, tem muita gente pobre aqui", diz Maria Helena.

O Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, calcula que, juntos, os 28 municípios tenham a receber cerca de 10 mil bolsas. Calculado pela média das bolsas pagas no País, que é de R$ 72,00, seriam em torno de R$ 720 mil que o governo federal poderia repassar a esses municípios. A secretária de Renda e Cidadania do ministério, Rosani Cunha, explica que o governo está começando uma ofensiva para tentar acelerar a implantação do programa nos 28 desgarrados. "Como são poucos, estamos fazendo um trabalho caso a caso, falando diretamente com os prefeitos para saber quais são os problemas e o que pode ser feito para acelerar o trabalho", disse.

Eleição

Com as eleições municipais em 2004, desde a metade do ano houve dificuldade de levar adiante o programa em algumas cidades. É o caso da prefeitura de Guarani de Goiás, que atribui ao "processo político" o fato de não ter feito antes o cadastro das famílias a serem beneficiadas. Reeleito, o prefeito Bernardino Pinto do Araújo informou que vai cuidar do caso agora, mas não quis dar maiores explicações.

Goiás é o Estado que concentra o maior número de cidades fora do programa: 13. O município goiano de Turvelândia é um exemplo de problemas burocráticos e falta de informação. "Desde julho as informações para fazermos a migração do cadastro do Bolsa Escola para o Bolsa Família estavam indo para a Secretaria de Promoção Social. Mas o Bolsa Escola estava aqui na Secretaria de Educação. Nunca me disseram nada, então não sabia que tinha de fazer. E lá eles não fizeram nada também", explicou o secretário de Educação do município, Carlos Roberto de Miranda.

Em Turvelândia, 123 famílias recebem o Bolsa Escola e serão transferidas para o Bolsa Família. Mas o município tem ainda de cadastrar outras 130. "Em dezembro essa informação chegou na minha mão. Eu me comprometi agora em fazer esse cadastro. Acho que em 20 dias teremos tudo", disse o secretário.