Título: Reforma fica para fevereiro e PMDB terá mais espaço
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Nacional, p. A5
Na conversa de duas horas que teve ontem com a cúpula governista do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ampliar o espaço do partido no governo. Fez apenas uma exigência em relação à reforma ministerial que só realizará depois da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, em 14 de fevereiro: não quer negociar mais nada com a governadora do Rio, Rosinha Matheus, nem com seu marido, Anthony Garotinho. "Não tenho mais nenhuma esperança de entendimento com Garotinho", disse ao presidente do Senado, José Sarney (AP), e aos líderes do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), e na Câmara, José Borba (PR). Garotinho, que controlaria o voto dos 13 deputados do PMDB do Rio, comunicou ontem ao partido que seus seguidores não votarão no candidato oficial do PT a presidente da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Lula, que decidira adiar a reforma ministerial justamente para evitar que interferisse na sucessão do Congresso e dificultasse ainda mais a vida de Greenhalgh, já teria dado o troco, mandando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, desautorizar a antecipação de R$ 350 milhões de pagamento de royalties de petróleo ao governo do Rio. O pagamento havia sido negociado pela cúpula do PMDB com o Planalto.
"Não vou abrir esse grave precedente de governar e negociar sob pressão", afirmou Lula, segundo um dos presentes. Apesar do veto a Garotinho, o presidente definiu a relação cooperativa que deseja ter com outros governadores do PMDB. O primeiro lembrado foi o gaúcho Germano Rigotto, a quem chamou de "um homem de bem". Rosinha prega o rompimento com o governo em apoio ao marido, que é pré-candidato à Presidência e deve disputá-la com Lula. Rigotto, por seu lado, quer que o PMDB entregue os cargos no governo, mas não abandone sua base de apoio no Congresso.
Os peemedebistas contaram ter ouvido de Lula que compreende as dificuldades do Rio Grande do Sul e recomendara a Palocci que trate bem o Estado. Disse confiar também nos governadores Luiz Henrique (SC) e Roberto Requião (PR), ambos do PMDB.
Segundo dirigentes do partido, a iniciativa da reunião foi de Lula, que semana passada propôs a Sarney e Renan uma conversa sobre a reforma ministerial. Borba foi chamado na última hora. Ao saber que não fora convidado, na quarta-feira à noite, ele avisou aos senadores que a bancada da Câmara não acataria nenhum acerto com o Planalto se não houvesse um representante seu na conversa. Sarney acionou o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que telefonou ontem cedo para Borba, convidando-o.
DETALHES
O presidente disse que dará mais espaço ao partido e agradeceu a contribuição positiva das bancadas do PMDB na Câmara e no Senado. Mas não deixou claro se optará por dar-lhe um terceiro ministério, além de Comunicações (Eunício Oliveira) e Previdência Social (Amir Lando), ou fortalecer as pastas dos peemedebistas. "A conversa não foi conclusiva porque ele não quer que a reforma interfira na sucessão do Congresso", explicou Renan, à noite, já de volta ao Senado. "O presidente não deixou claro o tamanho da reforma nem quem vai sair ou entrar no ministério, mas deixou transparecer que já está com a reforma ministerial pronta na cabeça."
Mas Lula deu pistas de pelo menos um critério que usará: disse que não manterá ninguém do PT que vá deixar o governo em abril do ano que vem para disputar as eleições. Comentou também que a permanência ou saída dos ministros Lando e Eunício ficará a critério das bancadas do PMDB no Senado e na Câmara, que, segundo Renan e Borba, serão consultadas.
Embora Renan defenda abertamente a ida da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para algum ministério, o assunto não foi tratado na reunião. De acordo com José Borba, Sarney, pai de Roseana, pediu que a questão não fosse discutida em sua presença, para não lhe causar constrangimentos.
Lula aproveitou para cobrar de Renan pedido que fizera em conversa anterior: que convidasse o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), para entrar no PMDB. O presidente quer manter Ciro, mas ele vem sendo pressionado pela direção do PPS a deixar a pasta ou desfiliar-se do partido, que saiu da base governista. Renan confirmou que o convite foi feito, já há um mês, mas o ministro não demonstrou interesse em trocar o PPS pelo PMDB.