Título: Sem conseguir vaga, menina brinca de escolinha em casa
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Vida &, p. A10

HISTÓRIAS: Há três anos, Patricia Alves Peixoto, de 12 anos, não consegue vaga para cursar o 3.º ano do ensino fundamental. Moradora da Favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, ela ficou dois meses no hospital por causa de um atropelamento. Segundo a mãe, Cristiane Alves Viana, de 32, a menina foi retirado da lista da escola por não ter freqüentado mais as aulas. "A médica disse que ela não podia forçar a vista." Depois que a filha melhorou, Cristiane não conseguiu mais vaga. "Já fui a três escolas e em nenhuma pude inscrever a Patricia." Enquanto não estuda, a garota brinca de escolinha com os cadernos em casa. Com timidez, ela diz sentir saudades dos colegas e das aulas de matemática. "Eu gostava de fazer contas."

A mãe lamenta. "Ela é a mais esforçada de todos os meus seis filhos. É uma pena porque ela fica reclamando com vontade de ir para a escola." Cristiane diz que se tivesse condições financeiras pagaria um colégio particular. "Ela quer se mudar para a casa da avó porque acha que vai achar uma vaga. Mas lá também não tem."

Quem também passa por dificuldades é Vanilda Soares Carvalho, que também mora em Paraisópolis. Todo mês, ela precisa acordar às 3 horas para conseguir marcar uma consulta para Tauane, a filha de 5 meses. "Tenho de chegar cedo ao posto porque tem muita criança. Só consigo porque vou de madrugada."

Vanilda conta sobre o descaso no posto da região. "Uma vez a menina ficou com uma alergia e a enfermeira disse que não tinha pomada", disse. "Mas, depois que eu insisti muito, ela passou o remédio." Segundo seu marido, o ajudante geral Damião de Jesus Santos, de 28 anos, sua baixa remuneração o impede de melhorar as condições de saúde da família.