Título: Blair quer que Bush ouça mais o mundo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Internacional, p. A14

Em entrevista publicada ontem pelo jornal The Guardian, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse esperar que o presidente George W. Bush adote uma política externa "mais consensual" em seu segundo mandato. "A evolução vem da experiência", disse Blair ao entrevistador, o historiador Timothy Garton Ash. "É possível construir uma agenda internacional que seja mais consensual, mais multilateral do que tem sido." Segundo Blair, esse processo de aprendizado, iniciado com a guerra no Afeganistão, mostrou a Bush a importância de usar outros métodos, além da força militar, para tornar o mundo mais seguro.

"No fim, podemos adotar medidas militares e de segurança contra o terrorismo, mas a melhor perspectiva de coexistência pacífica repousa na disseminação da democracia e dos direitos humanos." Forte aliado de Bush nas campanhas no Afeganistão e no Iraque, Blair é muito criticado em seu país por ter fracassado em obter o apoio dos EUA para suas metas em política externa.

A Grã-Bretanha assume este ano a chefia do Grupo dos 8 (as sete nações mais ricas do mundo e a Rússia) e espera obter progressos na redução da dívida dos países pobres da África e no combate às emissões de gás que, segundo cientistas, são responsáveis pelas mudanças do clima no planeta. Ao Guardian ele disse não esperar que Bush mude sua posição sobre o Protocolo de Kyoto, que se recusa a assinar. Blair quer, porém, que Bush tome algumas medidas contra as emissões.

Ele também pressiona os EUA a anunciarem um plano de retirada das forças estrangeiras do Iraque, informou ontem o jornal britânico Daily Telegraph. Citando fontes governamentais, o diário destacou que o governo quer que os americanos apresentem oficialmente um cronograma pelo qual as tropas começariam a retirar-se nos próximos 18 meses.

Ainda não há uma previsão de data-limite para o regresso dos soldados, de acordo com o Telegraph, porque isso dependerá da capacidade das forças de segurança iraquianas em controlar a situação. "Um calendário seria um importante sinal político de nossa vontade de abandonar o país", disse uma autoridade britânica ao diário.

A informação do Telegraph coincide com especulações nos meios políticos britânicos e comentários de analistas políticos locais sobre a determinação do governo Blair de tentar influir nas decisões de Bush em relação ao Iraque, ao conflito palestino-israelense - que a Grã-Bretanha espera que seja agora uma prioridade - e na limitação de emissão de gases na atmosfera.

Analistas dizem que Blair tentará pressionar mais nos próximos meses porque até maio disputará a reeleição.