Título: País capta 500 milhões e paga juro mais baixo
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Economia, p. B1

As condições da captação de 500 milhões anunciada ontem pelo Tesouro Nacional são melhores do que as da operação feita na segunda metade de setembro do ano passado, última vez em que o Brasil fez uma emissão no mercado europeu. Naquela ocasião, o Banco Central (BC) conseguiu levantar o correspondente a 250 milhões com a reabertura de um bônus de 8 anos emitido originalmente no dia 8 do mesmo mês. Entre uma operação e outra, verificou-se aumento do prazo de 8 para 10 anos e queda do custo de colocação dos papéis de 8,5% para 7,375% ao ano. Outro indicador a apresentar melhora na emissão foi do chamado spread, a diferença entre a taxa de emissão do título brasileiro e os juros pagos pelo tesouro alemão em seus títulos. Essa diferença foi reduzida dos 439 pontos básicos de setembro do ano passado para 398,5 pontos. A queda revela uma melhora de confiança dos investidores internacionais em relação à economia brasileira. A taxa de retorno exigida pelos investidores para efetuar a compra dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional recuou entre a emissão de setembro e a de hoje, de 8,17% para 7,55% ao ano.

A única piora na emissão de ontem foi a queda no preço de colocação dos títulos no mercado de euros. Em setembro do ano passado, os papéis foram emitidos com ágio e um preço equivalente a 101,875% do valor de face. Na operação fechada ontem, os títulos foram emitidos a 98,80% do valor de face, passando a embutir um deságio. Em todo o ano passado, o Tesouro Nacional captou US$ 5,728 bilhões, e US$ 1,5 bilhão deste valor já corresponde às necessidades de financiamento para o corrente ano. O objetivo do Tesouro, neste ano, é captar US$ 4,5 bilhões. Com a operação de ontem, este valor foi reduzido para algo próximo a US$ 4 bilhões.

A emissão do Tesouro Nacional feita ontem ainda teve o mérito de aproveitar o momento de valorização do euro no mercado internacional de moedas. Do ponto de vista das reservas internacionais, no momento é melhor ter uma aplicação em moeda européia do que em dólar, que vem se desvalorizando em relação a outras moedas. A opção foi ainda melhor do que se o governo tivesse optado por uma emissão em reais. Neste caso, o risco cambial da operação seria todo do governo brasileiro, pois os títulos referenciados em reais são liquidados em dólar, em razão de nossa moeda não ser ainda plenamente aceita nos mercados internacionais.