Título: Para Loyola, juro vai subir de novo em fevereiro
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Economia, p. B3
A ata da reunião do Copom deverá mostrar o Banco Central (BC) ainda bastante conservador, na opinião do sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do BC, Gustavo Loyola. "Se não fosse assim, ele não teria feito o aumento de 0,5 ponto porcentual na reunião desta semana", disse o economista, ressaltando que as razões apontadas pelo BC na ata passada, sejam certas ou erradas, continuam existindo. Em entrevista ao Estado, ele disse que o BC provavelmente continuará a aumentar os juros em fevereiro. Ele acredita, porém, que novas elevações não são necessárias e o BC já poderia ter mantido sem alteração os juros básicos, diante das cinco altas consecutivas na taxa Selic.
O ex-presidente do Banco Central criticou a importância que o Copom dá às expectativas de inflação para a formulação da política monetária. Segundo ele, as projeções dos analistas são importantes, mas deveriam ser usadas em conjunto com outros indicadores, para não provocar uma "circularidade". "O mercado se torna mais pessimista em relação à inflação pela própria ação do BC no sentido de transmitir uma visão mais negativa sobre a inflação. E, por outro lado, o BC também olha o mercado como um indicador de inflação mais alta."
O diretor de pesquisa e estratégia para mercados emergentes do Banco Goldman Sachs, Paulo Leme, acredita que o ciclo de aperto monetário pelo Banco Central poderá durar até março. "A probabilidade é muito alta de um aumento da taxa Selic de 0,5 ponto em fevereiro e, dependendo do arrefecimento da demanda agregada e da expectativa inflacionária, talvez aconteça outro aumento de 0,25 ponto em março", disse Leme, após seminário da Câmara de Comércio Brasil Estados Unidos.
Para Leme, ainda está longe o cenário de afrouxamento da política monetária. "Não vejo isso ocorrer antes de julho deste ano." Em relação ao impacto dos juros sobre a perspectiva de crescimento da economia neste ano, ele ressaltou que seria muito mais nocivo para a atividade econômica se a inflação continuar divergindo da meta.
A diretora da área de risco soberano da América Latina da Standard & Poor's, Lisa Schineller, considerou a alta de 0,5 ponto porcentual da Selic ontem pelo Copom uma medida correta no âmbito de uma política macroeconômica apropriada. "A alta de 0,5 ponto porcentual era esperada e veio em linha com as expectativas do mercado. Nosso sentimento é que o aperto monetário deverá continuar", afirmou Schineller antes de participar do seminário da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Para ela, o BC está no caminho certo, ao conduzir a política monetária de forma a perseguir as metas de inflação estabelecidas para este ano. "Assim, é possível pensarmos na possibilidade de afrouxamento monetário na segunda metade desse ano", disse Schineller.
Ela reconhece que as metas de inflação do Banco Central dão espaço para polêmica, pois resultam numa política monetária apertada no momento. "Mas na nossa visão é importante que o BC continue perseguindo essas metas em termos de credibilidade", afirmou a executiva.