Título: 'O BC tem acertado', diz Palocci
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Economia, p. B3

Depois da intensificação das críticas ao quinto aumento consecutivo do juro básico, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez ontem uma enfática defesa da política monetária conduzida pelo Banco Central. Ele disse que vai sempre defender as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), porque o BC tem acertado. Aos impacientes com a demora na queda do juro, o ministro afirmou que só poderia oferecer o resultado do crescimento da economia, e que está muito seguro da política adotada. "O setor produtivo, em 2004, teve um crescimento melhor que nos últimos 18 anos. Em São Paulo, o crescimento foi o maior de sua história. Se traz impaciência (a demora na queda do juro básico), eu compreendo, mas o que podemos oferecer é esse resultado. Mais do que o maior crescimento da história, sinceramente eu não consigo", desabafou.

Ele assegurou que o governo não vai fechar os ouvidos às críticas, mesmo que elas sejam repetitivas, mas alertou que o BC está reagindo a um mal maior, que se chama inflação. Palocci aproveitou uma cerimônia sobre o programa Bolsa Família, no Palácio do Planalto, para passar o seu recado. A seguir, os principais trechos da entrevista.

MAL MAIOR

"A política do BC reage a um mal maior, que se chama inflação. Este governo está absolutamente decidido a não deixar que a inflação prejudique o processo de crescimento. É lógico que todos nós, inclusive o presidente do BC, desejam e trabalham para que os juros sejam menores, mas isso não pode ser feito a despeito do acompanhamento dos números inflacionários."

PREÇOS ADMINISTRADOS

"Não temos de dar atenção só à futura decisão do Copom. Temos de dar atenção às decisões de preços. As pressões inflacionárias que estão sendo observadas hoje estão longe de serem apenas referentes a preços administrados. Seria bom que fossem, mas não são."

QUEDA DO JURO

"Eu sou otimista. A estrutura produtiva do País tem condições de ter ganho de produtividade e não buscar apenas ganho de preços. Se isso for observado no processo de crescimento, podemos ter resultados positivos que se refletirão na política monetária. Não quero fazer previsões. O Copom é quem toma a decisão. São decisões autônomas e vamos sempre defendê-las. O BC tem acertado."

IMPACIÊNCIA

"Os resultados do crescimento mostram que as políticas se coordenam de maneira adequada com o crescimento sustentável. Vamos lembrar que no começo do ano passado, quando o BC parou de (fazer) cair o juro, houve muitas críticas à política monetária naquele momento. Depois de uns meses, se observou que o BC estava correto. Não é por isso que vamos fechar os ouvidos às críticas, mesmo que sejam repetitivas. Estamos muito seguros da política adotada."

VENDAS

"Dados preliminares de dezembro mostram algo que sazonalmente não era observado: a retomada do processo de crescimento industrial no último mês do ano. Os dados indicam que talvez isso tenha ocorrido no ano passado. As vendas foram bastante expressivas. Temos alguns setores que as vendas foram até extraordinárias, como eletroeletrônicos e celulares".

PEDIDOS

"É evidente que as ações de política econômica nem sempre agradam. A política econômica não é feita apenas para fazer tudo o que se pede. Se eu fosse atender a todos os pedidos de desoneração tributária e aumento de gastos, a conta não fechava."

OTIMISMO

"Estou muito otimista com 2005. Tenho certeza de que vamos ter mais um ano de crescimento consistente. Os indicadores econômicos do País todos são favoráveis e continuam sendo favoráveis. Não há motivo para acharmos que um lado ou outro da política econômica possa nos colocar numa rua de dificuldade".

CRÍTICAS

"A crítica é bem-vinda. Mas o foco não pode ser apenas os juros, tem de ser a inflação também. É preciso olhar o que está acontecendo com a inflação para entender o que acontece com os juros."

CÂMBIO

"Este governo não vai fazer fazer populismo cambial. O governo não vai ficar segurando o câmbio num determinado valor para obter resultado de ocasião. O governo tem como política o câmbio flutuante, e vai continuar tendo."

AJUSTE EXTERNO

"O ajuste nas contas externas vai continuar sólido. Vai ainda prestar, durante muitos anos, um grande serviço ao País. A reversão nas contas externas é uma mudança estrutural, não é uma mudança de oportunidade, não vale no curto prazo, não é oferta de ocasião".

CARGA TRIBUTÁRIA

"Apesar de todas as avaliações apressadas, a carga tributária do País, em 2004, deve ficar abaixo da verificada em 2002. O País teve a maior arrecadação em 2004, mas teve também o maior crescimento dos últimos anos. Estamos devolvendo o imposto que veio a maior"

MP 232

"Não posso crer quando dizem que uma determinada mudança que está no conjunto de outros medidas pode significar aumento de preços para algum setor. Ora! Vamos encarar com mais serenidade e clareza essas contas e não vamos valorizar afirmações desse tipo, porque não encontram respaldo numa mínima avaliação dos dados reais".