Título: Demitidos os rebeldes da Embrapa
Autor: Renata Veríssimo e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Economia, p. B4

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, demitiu ontem toda a diretoria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), encerrando mais um caso de insubordinação no governo Lula. A mudança fortalece Rodrigues, que em novembro colocou o cargo à disposição do presidente em meio a uma nova crise em relação à sua permanência, diante da deterioração de sua relação com Clayton Campanhola, que privilegiava a agricultura familiar em detrimento do agribusiness. Campanhola será substituído pelo físico Silvio Crestana, um técnico especializado em agronegócios, que atua na unidade da Embrapa, em São Carlos (SP). Crestana foi indicado pelo prefeito de São Carlos, o petista Nilton Lima. Embora seja uma indicação política, Crestana não é do partido. É um técnico da Embrapa desde 1988. As mudanças atingiram também três diretores-executivos: Gustavo Kauark Chianca, Herbert Cavalcante de Lima e Mariza Marilena Barbosa Roberto Rodrigues.

Campanhola já tem novo destino: vai dirigir o Pólo de Biocombustíveis de Piracicaba (SP).

Há cerca de um ano, Rodrigues comentou com Lula sua insatisfação com o comando da empresa. Disse que a sua intenção era recuperar a imagem de uma "ilha de excelência" na área de tecnologia de ponta que a Embrapa desfrutava - imagem essa que, segundo ele, estava sendo minada pela administração de Campanhola, focada na agricultura familiar e contrária ao cultivo de transgênicos. Em novembro, o assunto voltou a debate. O ministro disse ao presidente que, se ele precisasse de seu cargo para composições políticas, poderia sair. Lula respondeu que não, e que estava muito satisfeito com o seu trabalho.

O ministro aproveitou para dizer que queria fazer mudanças na Embrapa e se queixou da insubordinação de Campanhola, que só se reportava ao Planalto, aproveitando-se da indicação de José Graziano, o assessor especial de Lula. "Se o pequeno produtor se tornar um grande produtor, por acaso ele deixa de ser importante?", perguntou Rodrigues.

Lula aceitou os argumentos e autorizou a nomeação da nova equipe para o comando da Embrapa. Só pediu que não magoasse Graziano. Para compensar o amigo do presidente, o ministro levou para a secretaria-executiva do ministério o ex-presidente da Conab, Luiz Carlos Guedes Pinto. A demissão de Campanhola mostra que o governo não tolera casos de indisciplina, disse um auxiliar do presidente Lula.

A rebeldia de Campanhola foi comparada à de Carlos Lessa na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em dezembro, após se desentender publicamente com o ministro Luiz Furlan, do Desenvolvimento, Lessa foi demitido.

A mudança na Embrapa faz parte de uma ampla reformulação que Rodrigues está fazendo em sua pasta, para torná-la mais voltada para o agribusiness. Além do secretário executivo, ele trocou os responsáveis pela área de Defesa Agropecuária e de Apoio Rural e Cooperativismo. Ele também criou uma Secretaria de Relações Externas, que vai se ocupar das negociações internacionais, e uma assessoria de gestão estratégica. Os titulares das novas áreas, Elisabete Serodio e Elisio Contini, aguardam edição de decreto presidencial para tomar posse.

Em todas as trocas, porém, Rodrigues tomou o cuidado de não dar margem a interpretações de que elas ocorreram por desempenho insuficiente. Os ex-secretários permanecem no ministério.