Título: 'Houve uma sobreposição de infelicidades'
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Economia, p. B6

O Ministério de Minas e Energia e a estatal Eletrobrás atribuíram os apagões deste mês, que atingiram os Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Santa Catarina, a uma sobreposição de situações de origens diversas. O governo nega que haja falta de investimentos no setor por parte das empresas estatais ou que os programas de manutenção não estejam sendo cumpridos, e afirma que o sistema elétrico do País é robusto e está em fase de expansão, com previsão de aumento na oferta de energia. "Houve uma quantidade concentrada de ocorrências que acontecem em qualquer lugar do mundo, só que efetivamente, com razões e origens distintas e identificáveis", disse ao Estado o secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Ronaldo Schuck. O apagão de 1.º de janeiro, no Rio e Espírito Santo, foi causado, segundo ele, por uma combinação de falha técnica com falha humana, que resultou no desligamento de três linhas de transmissão de energia de Furnas.

A origem do apagão que deixou sem luz parte do Espírito Santo, no dia 7, foi um raio que atingiu uma linha de transmissão de Furnas. "Em todo verão, período chuvoso, cai mais raio nas linhas." No caso de Santa Catarina, que teve o fornecimento de energia para parte do Estado interrompido nesta segunda-feira, a causa foi um defeito em um dispositivo (relé) auxiliar de equipamentos.

O presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, afirmou que as empresas do grupo Eletrobrás têm programa de manutenção preventiva e corretiva. "A manutenção vem sendo feita e nenhum programa foi alterado por conta de contingência." Metade do investimento de R$ 1,1 bilhão de Furnas, em 2004, foi destinada para a manutenção, afirmou. "Houve uma sobreposição de infelicidades. Estamos tomando todas as medidas para que não aconteça mais."

Segundo Rondeau, as empresas do grupo Eletrobrás - Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul - vão investir R$ 4,6 bilhões em expansão e melhorias das condições operacionais do sistema neste ano, repetindo o montante investido em 2003. "O programa de manutenção não foi prejudicado por corte de orçamento." Anteontem, o ex-presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, afirmou que as estatais estão reprimidas pela política econômica e são obrigadas a fazer superávit primário.

A previsão do ministério é de que a oferta de energia crescerá de 5% a 6% ao ano nos próximos dois anos. Segundo Schuck, o Brasil vive uma situação não verificada há muitos anos, com reservatórios que abastecem as hidrelétricas em excelente condição. "Do ponto de vista da oferta não há o mínimo risco", garantiu, descartando a possibilidade de ocorrer apagões provenientes das mesmas causas que levaram ao racionamento de 2001. O sistema de transmissão de energia, afirmou, está sendo ampliado para aumentar a confiabilidade e escoar a energia de novas usinas.