Título: Banco Santos: credores reagem
Autor: Ricardo Leopoldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Economia, p. B9

O diretor da KPMG Eduardo Farhat afirmou ontem que os clientes representados pela empresa, credores de R$ 500 milhões do Banco Santos, rejeitaram, numa reunião realizada na Câmara Americana de Comércio, a proposta da consultoria Valora, dirigida pelo ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas. "Estamos abertos a negociação e dispostos a suportar perdas", disse Farhat. "Contudo, a sugestão tem pontos que não podem ser aceitos." A decisão foi apresentada pessoalmente por Farhat ao interventor do banco, Vânio Aguiar, no final da tarde. Em 29 de dezembro, a Valora apresentou aos credores uma proposta, dividida em duas fases. A primeira sugeria uma espécie de moratória de seis meses sem saques de recursos. Na segunda etapa, seria definido o modelo de reestruturação da instituição, no qual os credores determinariam qual seria o novo tamanho do Banco Santos e como funcionaria após a intervenção do BC.

Segundo Farhat, um dos tópicos rejeitados pelos clientes da KPMG permitiria aos credores que não aceitassem o acordo sugerido pela consultoria receber seus recursos antes de quem concordou com a proposta. "Isto é um total contra-senso, que não pode ser admitido", comentou. "Não há problema de aceitar uma moratória. Contudo, ela não pode prejudicar aqueles que aderirem a tal acordo." Outro fator, segundo o diretor da KPMG, é admitir que o banco passe a ser administrado por um Regime de Administração Extraordinária Temporária. "Isso significa que a instituição financeira passaria a ser gerida pelo Banco Central", afirmou. "Há soluções bem mais adequadas neste momento, como, por exemplo, a direção do banco ser realizada por gestores escolhidos pelos credores." Segundo Farhat, para os credores coordenados pela KPMG é também muito importante que Edemar Cid Ferreira, controlador do banco, aporte recursos na instituição. "Até agora não houve nenhuma manifestação clara sobre este tema. É preciso um compromisso bem transparente que vá nessa direção."

De acordo com Farhat, o interventor do BC no Banco Santos foi compreensivo e mostrou-se satisfeito com a disposição dos credores de negociar para que a instituição financeira volte a operar em breve. "Acredito que nossa posição vai colaborar de maneira significativa para que o destino do banco não seja a liquidação."

Antes do encontro, o interventor Vânio Aguiar havia pedido que os credores definissem logo se "vão perder pouco ou muito", referindo-se ao destino do banco no curto prazo. "Eles precisam mostrar de maneira formal que estão interessados numa solução boa para todos", comentou Aguiar, que pretende entregar seu relatório recomendando uma solução para o Santos em 11 de fevereiro. Esse é o prazo final para que os credores e Edemar Cid Ferreira, firmem um acordo que evite a liquidação.

No seu relatório, Vânio Aguiar recomendará à cúpula do BC se o banco fechará suas portas para o público ou se seguirá alguma alternativa que contemple seu pleno funcionamento, mesmo em dimensões menores. "Infelizmente, os credores precisarão escolher se vão perder pouco ou muito. A liquidação, obviamente, não é a melhor solução para todas as partes."

A liquidação não está descartada, disse Aguiar: "Tudo depende da adesão dos credores à proposta apresentada pela Valora. A liquidação não significa que o banco será fechado. Existem modalidades, como a liquidação ordinária, na qual os credores basicamente redefinem o modo de operação do banco, que seria dirigido por gestor escolhido por eles. Nada está definido ainda."

O diretor da Eurovest Securities, líder e um dos credores dos US$ 62,5 milhões captados no exterior pelo Banco Santos em 2004, Carlos Gribel, defendeu que um gestor independente passe a administrar a instituição sob intervenção do BC. "A alternativa visa a dar chances para que seja encontrada uma solução de venda do banco, como ocorreu com o Banerj, que foi dirigido por um período pelo Bozano,Simonsen", comentou. "O importante é encontrar uma saída de mercado o mais rápido possível, pois a liquidação é ruim para todos."

Dia 14, cerca de 200 credores externos do Santos deixaram de receber suas respectivas partes nos juros relativos à captação de US$ 25 milhões, realizada em 28 de abril passado. O montante total que seria dividido entre esse grupo de investidores é de US$ 650 mil.

A Eurovest Securities formou um comitê de credores externos - todos pessoas físicas - e contratou em Nova York o escritório de advocacia Mayer, Brown, Rowe & Maw para assessorá-lo. "Queremos juntar nossas demandas para encontrar um caminho adequado às pendências com o Banco Santos", comentou Gribel.